Tradicionalismo Gaúcho - Ditados e Poesias

Valdecir Coelho é uma cria do Velho Rincão cerca de pedra, plagas do legendário São Nicolau. E como Missioneiro de "Buena Cepa", que mesmo se desgarrando cedo do pago santo, nunca renegou suas origens. E isso se comprova em cada rima que faz, revivenciando os Sete Povos Missioneiros. E dessa bem querência pelas Missões e pela gloriosa Tradição gaúcha, escreveu cinco livros de poesias, e um de ditados e expressões, dos quais resultaram neste CD intitulado: BIOGRAFIA DE UM MISSIONEIRO

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

FOTOS: DO "DEDO DE PROSA" COM OS ALUNOS E PROFESSORES (AS) DA EMEF ARNALDO GRIN - NOVO HAMBURGO. RS. NA SEMANA MULTICULTURAL E LITERÁRIA.

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Apresentação

EU SEI BEM DE ONDE VENHO/ POUCO ME IMPORTO PRA ONDE VOU/ O IMPORTANTE É ONDE ESTOU/ SEMPRE COM MUITO EMPENHO/ CONSCIENTE DA MISSÃO QUE TENHO/ POR SER MAIS UM NO ESTADO/ COM O DOM DO VERSO RIMADO/ ESSÊNCIA DA MAIS PURA TRADIÇÃO/ QUE COLOCO NAS TUAS MÃOS/ NO BLOG DE POESIAS E DITADOS. APRECIE BEM MEU PARCEIRO/ TUDO O QUE ESTÁ ESCRITO AQUI/ FOI FEITO ESPECIALMENTE PRA TI/ POR ESTE PAYADOR MISSIONEIRO/ QUE IGUAL A TI NO POVOEIRO/ NÃO SE ACOSTUMA COM O LUXO/ E VIVE QUEIMANDO CARTUCHO/ COM ESSE TAL DE MODERNISMO/ QUE QUIS ME ARRANCAR O CHUCRISMO/ E A MINHA ESTAMPA DE GAÚCHO.

MINHAS LEMBRANÇAS

NOS CANTOS DA MINHA MEMÓRIA/ GUARDEI UM POUCO DO PASSADO/ QUANDO EU LIDAVA COM GADO/ PELOS CAMPOS DO MEU RINCÃO/ BEM MUNTADO NUM ALAZÃO/ PINGO BUENO E DE CONFIANÇA/ FIEL PARCEIRO DAS ANDANÇAS/ E DO VELHO OFÍCIO DE PEÃO. LEMBRO AS EPOCAS MORMACENTAS/ DO SOL SAPECANDO O COURO/ MAS NADA DE VELA NEM CHORO/ MUITO MENOS EGUA APORREADA/ EU SEMPRE AGRADECI AS RODADAS/ POR TER DO PIOR ESCAPADO/ E POR NENHUM OSSO QUEBRADO/ SOLTAVA UM GRITO E UMA RISADA. DESSAS ESTREPOLIA QUE EU FALO/ FORJEI ESTA MINHA ESTAMPA/ E ME ESPALHEI PELA PAMPA/ APOSTANDO TUDO NOS BRAÇOS/ PORQUE DINHEIRO ERA ESCASSO/ PRAS CHINAS FAZEREM RETOÇO/ E SE GRUDAREM NO MEU PESCOÇO/ QUE NEM PEPINO NO BARAÇO. ASSIM REPONTAVA MEUS DIAS/ COM A SINA TEATINA E BAGUALA/ NA MÁ SUERTE DAVA DE PALA/ PRA SE AQUETAR NAS MANEIAS/ E QUANDO A COISA FICAVA FEIA/ MOSTRAVA SER DE BUENA CRIA/ NESSES TEMPOS SÓ SOBREVIVIA/ QUEM FOSSE BEM BOM DE PELEIA.

EU E ELA

FRESTIANDO PELO VÃO DA PORTA/ EU VI SURGINDO UM NOVO DIA/ UM SOL REPLETO DE GALHARDIA/ NUM RITUAL BEM PACHOLENTO/ TAMBÉM OUVI O SOM DO VENTO/ QUE ALARIFIANDO ”ASSOBIAVA”/ E COM TUDO ISSO EU MATIAVA/ ESCRAFUNCHANDO OS PENSAMENTOS. DEPOIS DE ESVAZIADA A CAMBONA/ E A SEIVA DA ERVA SER LAVADA/ ENCILHEI MEU VENTA RASGADA/ E ME PILCHEI BEM A PRECEITO/ PASSEI UM CHEIRO NO PEITO/ ATÉ EXAGERANDO NA QUANTIA/ PALPITAVA ENCONTRAR A GURIA/ QUE SÓ SOBE NO MEU CONCEITO. ANDEI UM TANTO PELA ESTRADA/ E QUEM EU QUERIA ENCONTREI/ DE LAMBUJA UM SORRISO GANHEI/ DO CANTO AO OUTRO DA BOCA/ E FAZENDO UMA VOZ MAROTA/ FALOU DE UMA IMENSA SAUDADE/ E QUE MINHA FALTA NA VERDADE/ JÁ ESTAVA LHE DEIXANDO LOUCA. FUI DIZENDO AO APEAR DO PINGO:/ É POR ISSO QUE ESTOU AQUI/ TUDO O QUE SENTES EU JÁ SENTI/ E PEGUEI SUAS MÃOS COM CARINHO/ LHE DEI NA TESTA UM BEIJINHO/ E APÓS UM ABRAÇO APERTADO/ FALEI: QUE DOIS SERES APAIXONADOS/ NÃO PODEM VIVEREM SOZINHOS. OLHEI NO FUNDO DOS SEUS OLHOS/ E VI TUDO O QUE QUERIA VER.../ EU E ELA NOS AMANHECER/ MATIANDO DO MESMO MATE/ OUVINDO O MESMO CUSCO QUE LATE/ QUANDO CHEGA ALGUMA VISITA/ E DEITADOS NA MESMA XITA/ QUE ESTIVER INFEITANDO O CATRE. SEM MAIS DE LONGA RETORNEI/ COM MINHA COBIÇADA CRIATURA/ TODA A VOLTA FOI COM JURAS/ BAIXINHO E AO PÉ DO OUVIDO/ HOJE NÃO TEM TEMPO PERDIDO/ PRA ESTE PEÃO E SUA MORENA/ A QUEM MOSTREI QUE VALEU A PENA/ A MINHA MÃE TER ME PARIDO.

PAJADA DE APRESENTAÇÃO

PARA QUEM NÃO SABE QUEM SOU/ EU SOU CRIOULO DE SÃO NICOLAU/ OS MATUNGOS EU AMANSO A PAU/ E AS TIANGAS TRATO COM CARINHO/ GOSTO DE CACHAÇA E DE VINHO/ DA CAMPANHA E A SIMPLICIDADE/ E NEM OS AVANÇOS DA IDADE/ ME TIRA AS FORÇAS DOS BRAÇOS/ E NOS LUGARES ONDE EU PASSO/ EU DEIXO E LEVO SAUDADES. QUEM SABE POUCO SOBRE MIM/ É PORQUE NUNCA ME PERGUNTOU/ SOU GRATO A QUEM ME GEROU/ NESTE MUNDO SEM PORTEIRA/ DO QUAL CARREGO AS BANDEIRAS/ COMO SIMBOLOGIA E IDENTIDADE/ A DO BRASIL POR NACIONALIDADE/ E A DO RIO GRANDE POR ESTIMA/ ONDE MORO COM UMA CHINA/ QUE EU CHAMO DE LIBERDADE. SE NÃO BASTASSE EU SER GAÚCHO/ AQUI DESTE GARRÃO BRASILEIRO/ TENHO MESCLA DO SEPÉ GUERREIRO/ UM ÍNDIO DA TEMPLA CHARRUA/ QUE CONHECIA A MÍSTICA DA LUA/ QUAL REGE O AMOR E O PECADO/ POR ISSO ME SINTO CONFORTADO/ E NÃO RETIRO NADA QUE DIGO/ PORQUE OS ENSINAMENTOS ANTIGOS/ HOJE É O MEU GRANDE LEGADO. EU TENHO PÁTRIA E TENHO PAGO/ EU SÓ NÃO TENHO É PARADEIRO/ E SE NÃO FOSSE UM MISSIONEIRO/ PRA OSTENTAR A CRUZ DE LORENA/ TALVEZ ATÉ DEUS TIVESSE PENA/ DESTE PEÃO CAMPEIRO E ANDARILHO/ QUE BEM MUNTADO NUM TORDILHO/ AO TRANCO REPONTO AS DISTÂNCIAS/ E PARA CORROER ALGUMAS ÂNCIAS/ CANTO E MEU VIOLÃO EU DEDILHO. ME FAZ MUITO GOSTO UMA PAJADA/ COM VERSOS ARRANCADOS DO PEITO/ ONDE MOSTRO QUE É DESTE JEITO/ QUE AOS PARCEIROS ME IDENTIFICO/ E QUE GANHO A VIDA NO BICO/ E NAS ESFREGAS DE ALGUMA DOMA/ ONDE O XUCRISMO SE DESMORONA/ EM CADA CORCÓVIO DO REDOMÃO/ FAZENDO SALTAR LEIVAS DO CHÃO/ SOB APLAUSOS DAS QUERENDONAS. ISSO É O QUE DA SENTIDO A VIDA/ TAMBÉM DEIXA COM MAIS VALOR/ JÁ O FIO DE BIGODE É MEU FIADOR/ QUANDO A PALAVRA É EMPENHADA/ NÃO ME IGUALO COM NADA/ E SOU O MEU PROPRIO ESPELHO/ NÃO DOU NEM ACEITO CONSELHO/ E QUEM NÃO GAVO NÃO “DESDENHO”/ A DESCÊNCIA É TUDO O QUE TENHO/ CALCADO NO SOBRENOME COELHO.

CORCÓVIO NO PEITO

COMEÇA CORCOVIAR NO PEITO/ UMA VONTADE BAGUALA/ DE BOTAR OS TRAPOS NA MALA/ ENCILHAR MEU PINGO ALAZÃO/ E TOMAR QUALQUER DIREÇÃO/ QUE ME LEVE BEM DISTANTE/ ONDE POSSA LEVAR ADIANTE/ ESTE VELHO OFÍCIO DE PEÃO. AQUI TUDO MUDOU BASTANTE/ EU QUASE MORRO DE AFLIÇÃO/ POR VER GALOPAR A EVOLUÇÃO/ E NÃO PODE LHE ACOMPANHAR/ PORQUE SÓ APRENDI LIDAR/ COM AS PLANTAS E OS BICHOS/ E DESPACHAR NUM BOLICHO/ QUE ESTA PRESTES A FECHAR. QUANTO MAIS EU ME DEMORO/ MAIS ME LEMBRO DONDE VIM/ E SONHO COM GADO NO CAPIM/ E LAVOURA COM TERRA LAVRADA/ ONDE A SEMENTE PLANTADA/ É PRENÚNCIO DE BOA COLHETA/ E JUNTAS DE BOIS NA CARRETA/ FAZEM O TRANSPORTE NA ESTRADA. DANDO CERTO ESSE DESEJO/ VOU REUNIR TODOS OS PESSUELOS/ E LEVAR COMIGO DE SINUELO/ PELOS CAMINHOS DA VOLTA/ E A VIDA VELHA TODA TORTA/ QUE JÁ ANDA POR UM TENTO/ DEIXARÁ O ASFALTO E O CIMENTO/ O QUE É POUCO MAS CONFORTA. E DEPOIS QUE EU REALIZAR/ ESSA TÃO SONHADA VONTADE/ DIREI NUNCA MAIS AS CIDADES/ POR ELAS PERDI OS ENCANTOS/ E VOLTO PRA OUVIR O CANTO/ DA JURITI E DO QUERO-QUERO/ IGUAL A ELES TAMBÉM QUERO/ VIVER LIVRE PELOS CAMPOS.

PÁTRIA DOS BRAVOS

QUANDO ME PILCHO A PRECEITO/ CAPRICHANDO NA COR DO LENÇO/ MELHOR NAS COISAS EU PENSO/ AQUI DA PÁTRIA DOS BRAVOS/ E AS PELEIAS QUE HOJE TRAVO/ COM ESSE MUNDO MODERNO/ MOSTRO O QUANTO ME GOVERNO/ E SÓ DA LIBERDADE SOU ESCRAVO. DESSA FORMA REPONTO OS DIAS/ DE MELENA SOLTA AO VENTO/ E A ALMA QUE LEVO NOS TENTOS/ ME AJUDA RECULUTAR OS TROCOS/ JÁ O VELHO JEITÃO DE LOCO/ NOS CASOS DE ALGUM DESAFORO/ FAZ O MEU DESGUAMPA TOURO/ RETUMBAR O AÇO NOS TOCOS. E ENTRE AS GANHAS E PERDIDAS/ VIVER É O MEU GRANDE LUCRO/ DEPOIS VEM OS VERSOS XUCROS/ QUE NINGUEM ROUBA NEM TOMA/ MAS O QUE MAIS ME EMOCIONA/ AQUI NESTE TORRÃO GAÚCHO/ É A VIDA QUE LEVO SEM LUXO/ “ARRODIADITO” DE QUERENDONAS. É POR ISSO QUE PEÇO AO CÉU/ BASTANTE TEMPO DE VIVÊNCIA/ E PARA MIM DEIXAR A QUERÊNCIA/ E DE SER UM BOMBACHUDO/ SÓ APÓS TER VIVIDO TUDO/ OU FINDADO OFÍCIO DE PAYADOR/ MESMO ASSIM SÓ SE EU FOR/ PRA UM LUGAR BEM MACANUDO.

VERSOS DO LIVRO: SÓ PARA O MEU CONSUMO

...MEU VELHO RANCHO ENTONADO/ MAIS PARECE UMA TAPÉRA/ EU DENTRO DELE ARRINCONADO/ TODOS OS DIAS A TUA ESPERA. DEIXEI DE SER UM LOBO QUATI/ QUE UIVAVA PELAS COXILHAS/ DESDE QUANDO TE CONHECI/ NUMA SEMANA FARROUPILHA. A VIDA TEM IDAS E VINDAS/ TÊM QUEM DA E NEGA POSO/ NUM DESSES COM UMA LINDA/ EU ME APAIXONEI DE NOVO. EU HOJE TE FAÇO UM TRATO/ JÁ QUE SOMOS BEM PARCEIROS/ DE JUNTAR-MOS NOSSOS TRAPOS/ NO MEU RANCHO MISSIONEIRO. TALVEZ POR SER UM GUASCA/ TE QUERO SÓ PARA MIM/ E POR MAIS QUE SOLTE LASCA/ MEU AMOR NÃO TERÁ FIM. ESTE MEU OLHAR ESVASIVO/ É IGUAL O FRIO DO MINUANO/ MAS NÃO ABAFA MEU SORRISO/ NEM O TANTO QUE EU TE AMO. NÃO CHORO NEM TOMO TRAGO/ POR ALGUEM QUE NÃO ME QUIS/ NESTA SINA DE ÍNDIO VAGO/ TAMBÉM CONSIGO SER FELIZ. O FRIO PRA MIM É UM INFERNO/ O VENTO GELADO ME TONTEIA/ NÃO SEI COMO SUPORTAR O INVERNO/ SEM UM COBERTOR DE “OREIA”. QUANTA DOR E QUANTOS AIS/ CHINOCA DOS MEUS ENCANTOS/ POR TI O CABELO QUE NÃO CAI/ DESCOLORE E FICA BRANCO. MAIS RESISTENTE QUE A FOME/ MALDITA COMO UMA GUEXA/ SAUDADE NÃO HÁ QUEM DOME/ E DELA SÓ FICA AS QUEIXAS. DE MARIA TU FOI BATIZADA/ PODERIA TER SIDO DE JOANA/ MAS É DE MULHER ADORADA/ QUE ESTE GAUDÉRIO TE CHAMA. MEUS FRAQUEJOS É UM AVISO/ QUE COMECEI PERDER PRA IDADE/ E CADA VEZ MAIS DESENRAIZO/ COM O VENTO DA TUA SAUDADE. NUM JEITO QUE É TODO MEU/ COM MUITO CARINHO TE FALO/ QUE UM DIA TU ME DEU/ O MAIS CERTEIRO DOS PEALOS. VEM LOGO MINHA MORENA/ VEM LOGO PRA ME AQUECER/ SEM AS TUAS CANTILENAS/ EU NÃO CONSIGO ADORMECER. ESTA “MALEDETA” SAUDADE/ DO MEU PEITO TIRA LASCA/ E DÓI UMA BARBARIDADE/ ATÉ A ALMA DESTE GUASCA. EU SONHEI QUE FUI DE TREM/ DA CAPITAL PARA O INTERIOR/ E JUNTO COMIGO FOI TAMBÉM/ A PRENDINHA MEU AMOR. TENHO ANDADO MEIO TORTO/ E NÃO É O PESO DA IDADE/ É PORQUE NÃO FECHEI O CORPO/ PRA ESSA TAL DE SAUDADE. LEMBREI O BATON VERMELHO/ QUE TU USA DURANTE ANOS/ PRA ESCREVER NO MEU ESPELHO/ MEU AMOR EU TE AMO. QUANDO BATE UMA SAUDADE/ DESSAS DE INFEIAR O TRANCO/ PERCORRO TODA A CIDADE/ NÃO TE ACHO E VOLTO AOS PRANTOS. EU AINDA SOU UM DOS POUCOS/ QUE COME ABELHA INVÉS DO MEL/ E TE AMA IGUAL UM LOUCO/ E É CEM POR CENTO FIÉL. ESSA SAUDADE CAMPECHANA/ ARRINCONADA NO MEU PEITO/ SÓ TU PRENDA ARAGANA/ PODE NELA DAR UM JEITO. UM DIA TU VAI ACREDITAR/ NO QUERER DESTE “PAYÇANO”/ NEM QUE EU PRECISE GRITAR/ MIL VEZES QUE EU TE AMO. A MINHA VIDA LEVO A TROTE/ SEM PESTANEJAR SOBRANCELHAS/ TU EU BEIJO NO CANGOTE/ E POTRO SURRO NAS ORELHAS. AS VEZES EU SAIO A ESMO/ TE PROCURO E NÃO TE ACHO/ VOLTO COM DÓ DE MIM MESMO/ E DE TRISTEZA ME EMBORRACHO. COM A VIDA EU MUITO APRENDI/ ATÉ TRAPACEAR NO TRUCO/ NO AMOR GANHEI E PERDI/ MAS AINDA TÔ NO LUCRO. DE FOLGA DA MINHA LIDA/ HOJE TIREI PRA AGRADECER/ DEUS TER ME DADO A VIDA/ E TU A RAZÃO PRA VIVER...

GUINADA

A UNS QUANTOS ANOS ATRÁS/ ANDEI PRA LÁ DE BORRACHO/ IMPLICAVA ATÉ COM OS CACHOS/ DA MINHA CEBOSA MELENA/ AS VISTAS FICARAM PEQUENAS/ ENXERGANDO BEM POUCO/ E MEU INSTINTO DE LOUCO/ INCOMODAVA MINHA MORENA. EU BEBIA O TEMPO INTEIRO/ SÓ ME ACHAVAM NOS BUTÉCOS/ PERDIA NO ESCURO OS TARÉCOS/ PELOS CAMINHOS DA VOLTA/ CHEGAVA ESBARRANDO NA PORTA/ E GRITANDO PRA MINHA CHINA:/ ME ACENDE A LAMPARINA/ E NÃO ME OLHE DE CARA TORTA. BÊBADO EU PERDIA O JUÍZO/ TUDO ERA MOTIVO PRA BRIGA/ E O TRINTA NO MOL DA BARRIGA/ COM FLOR DE OURO NO CABO/ SABIA QUE QUANDO BRABO/ EU NÃO REFUGAVA O PERIGO/ E ATÉ UNS FALSOS AMIGOS/ CERTA VEZ MANDEI PRO DIABO. NESSE TEMPO QUE EU ANDAVA/ PELOS BOLICHOS DO PAGO/ FARREANDO E TOMANDO TRAGO/ COMO UM TEATINO VENTENA/ TORNEI A VIDA UM DILEMA/ E POBRE DE MIM SE NÃO FOSSE/ MINHA PRENDA UM RIACHO DOCE/ DAS ÁGUAS CLARAS E SERENAS. COM A DEDICAÇÃO E PACIÊNCIA/ ELA ME TIROU DO ABISMO/ HOJE DAMOS CONTINUISMO/ AO QUE COMEÇAMOS UM DIA/ QUE ERA VIVER EM HARMONIA/ NOS ACONCHEGOS DO RANCHO/ ONDE APOSENTEI NUM GANCHO/ MEU PASSADO DE REBELDIA. AS VEZES CUSTO ACREDITAR/ QUE TOMEI UM NOVO RUMO/ QUE CACHAÇA, JOGO E FUMO/ SÓ ESCRAVIZA UM POBRE PEÃO/ E MANDA PRA DENTRO DO CHÃO/ ATÉ ANTES DO PREVISTO/ EU A TEMPO ESCAPEI DISTO/ COM AS BOMBACHAS NA MÃO. AGORA REPONTO MINHA VIDA/ LIBERTO DE TODOS OS VÍCIOS/ NÃO FAÇO MAIS DESPERDÍCIOS/ EM NOITADAS DE BORRACHEIRA/ POIS GRAÇAS MINHA PARCEIRA/ A QUEM NESTES VERSOS DIGO:/ QUE A VIDA JUNTO CONTIGO/ É ESPECIAL DE PRIMEIRA. NESSA GUINADA QUE EU DEI/ RETOMEI A ANTIGA IDENTIDADE/ E PARA O BEM DA VERDADE/ DE LÁ PRA CÁ EU PROCURO/ MANTER O MEU SANGUE PURO/ SEM OS EXAGEROS DE BUCHO/ PORQUE ME BASTA SER GAÚCHO/ RIO-GRANDENSE DO PÊLO DURO.

PENDENGA / INÉDITA

ESCUTAVA O VENTO PACHOLA/ ENTRE OS FIOS DO ALAMBRADO/ ENQUANTO COSTIAVA O GADO/ NOS FUNDOS DE UMA FAZENDA/ ONDE IMENSO VERDE IMENDA/ TUDO O QUE A VISTA ALCANÇA/ E NESSA CAMPEIRA ANDANÇA/ PLANEJEI ROUBAR UMA PRENDA. NA ESTÂNCIA DON J. MARQUES/ EU ERA SÓ MAIS UM PEÃO/ A DITA – A CAÇULA DO PATRÃO/ POR SE ENRABICHAR EM MIM/ JÁ FOI ME DANDO SEU SIM/ NOS ENCONTROS AS ESCONDIDAS/ E QUE EU MELHORAVA DE VIDA/ OU A VIDA TERIA UM FIM. DECIDI JOGAR COM A SORTE/ JÁ QUE EU SOU UM TEATINO/ MAS O CAPRICHO DO DESTINO/ FOI CONTRA OS MEUS PLANOS/ DAÍ O MEU INSTINTO “PAYSANO”/ FOI QUEM FALOU MAIS ALTO/ FIZ DO CAMPO O MEU PALCO/ E O ACONTECIMENTO DO ANO. O FAZENDEIRO SABIA DE TUDO/ E MANDOU OS SEUS CAPANGAS/ ME PREPARAREM UMA “MANGA”/ NO FERIADÃO DE TIRADENTES/ AFOGUEM ESSE INDIGENTE/ NA REPRESA DA CURUNILHA/ DE MODO QUE MINHA FILHA/ ACREDITE EM UM ACIDENTE. NO DIA MARCADO PRA MORRER/ ME FIZERAM UNS CONVITES/ TIVE UM PUTA DUM PALPITE/ E MESMO ASSIM ACEITEI/ UM TORDILHO NEGRO ENCILHEI/ MAS NÃO SEM ANTES DA SAÍDA/ MEU H.Ó. MOLA ESTENDIDA/ ATÉ AS GOELAS EU MUNICIEI. MEU PINGO TROCAVA ORELHAS/ COMO UM SINAL DE PERIGO/ E PARA MEUS FALSOS AMIGOS/ EU JÁ FEDIA DEFUNTO/ SÓ FALAVAM NUM ASSUNTO/ QUE POR HORA ERA MISTÉRIO/ E TUDO INCLUÍA CEMITÉRIO/ A CIDADE DOS PÉS JUNTOS. APÓS CHEGARMOS NA REPRESA/ FALOU O FILHO DO FAZENDEIRO/ O SEDUTOR SERÁ O PRIMEIRO/ A ENTRAR NA ÁGUA-PELADO/ VAI ATÉ O MEIO A NADO/ E DEPOIS VOLTA NA BARRANCA/ MAS AO ME VER SE ESPANTA/ COM MEU TRINTA EMPUNHADO. DEI DOIS TIROS E UNS GRITOS/ PARA DESPERTAR OS COVARDES/ E DEPOIS PASSEI A TARDE/ LHES AMEAÇANDO DE MORTE/ MAS OS TIPOS TIVERAM SORTE/ SOU GAÚCHO E MANJO A LIDA/ ESSE PRAZER DE TIRAR VIDAS/ NUNCA FOI MEU PONTO FORTE. QUANDO CHEGOU O CREPÚSCULO/ TODOS NÚ E MÃOS AMARRADAS/ REPONTEI QUE NEM MANADA/ PELOS BAMBURRAIS DE CAPIM/ VAI SER LINDO PARA MIM/ FIRMAR OS PÉS NOS “ESTRIVOS”/ E MOSTRAR QUE ESTOU VIVO/ A QUEM QUERIA O MEU FIM. CHEGUEI “ASSOBIANDO” GROSSO/ COM NOVA ESPÉCIE DE TROPA/ E IGUAL LAGARTO NA TOCA/ O DITO CUJO VEIO À PORTA/ DAÍ GRITEI: AGORA TU SOLTA/ OS TEUS MISTIÇOS A “PEDIGRI”/ QUE A FILHA ENVERGONHADA DE TI/ ESTA PARECENDO UMA MORTA. O TEMIDO E TODO PODEROSO/ OLHAVA INCRÉDULO A TUDO/ E COM O SEMBLANTE SISUDO/ DESAMARROU PEÃO POR PEÃO/ ENQUANTO IAM PRO GALPÃO/ EU IRONIZEI O FAZENDEIRO/ SEM CAMPO, GADO E DINHEIRO/ TÔ ME SENTINDO UM PATRÂO. DEPOIS DISSO SAÍ GALOPANDO/ CORTANDO ALGUNS ATALHOS/ EM BUSCA DE OUTRO TRABALHO/ E UM LOCAL PRA MORADIA/ RELENTO E GUAIACA VAZIA/ PARA MIM NÃO É NORMAL/ E ALÉM DE ME SENTIR MAL/ ME AGRANDA DEMAIS O DIA. FOI ISSO E UM POQUITO MAIS/ COMO RELATEI O AÇUCEDIDO/ NÃO MORRI NEM FUI FERIDO/ E SERVIU PARA O FAZENDEIRO/ QUE SÓ O PODER DO DINHEIRO/ NÃO GERA NEGÓCIO SEGURO/ E TAMBÉM O QUANTO É DURO/ TER PENDENGA COM MISSIONEIRO. ANTES QUE FALEM NA PRENDA/ QUE NÃO TROUCE É VERDADE/ POR INÚMERAS ADVERSIDADES/ QUE SÓ ME DETIVE Á VIDA/ MAS NA PRÓXIMA INVESTIDA/ ACABAREI ESSA ESPERA LONGA/ JÁ QUE É QUESTÃO DE HONRA/ TRAZER PRA MIM A RAPARIGA.

O ANTIGO E O NOVO

CAMPO, CAMPO E MAIS CAMPO/ ERA BEM ASSIM ANTIGAMENTE/ HOJE MAL E PORCAMENTE/ AVISTAMOS ALGUNS POTREIROS/ JÁ RODEADOS DE POVOEIROS/ GRANJAS COM MAQUINÁRIOS/ FICANDO SÓ NO IMAGINÁRIO/ OS VELHOS BIRIVAS TROPEIROS. OS POUCOS QUE AINDA RESTAM/ VIRARAM TROPEIROS DE SONHOS/ POR ISSO EU ME OPONHO/ À EVOLUÇÃO E ÀS GANÂNCIAS/ QUAIS ENCURTAM DISTÂNCIAS/ EMPURRANDO TUDO PRO VALO/ JÁ TEM ATÉ AUTO COM CAVALOS/ NO PÁTIO DE ANTIGAS ESTÂNCIAS. O ANTIGO PERDEU SEU ESPAÇO/ MESMO COM TODA A ESSÊNCIA/ JÁ O NOVO SEM CONSISTÊNCIA/ VEIO E TOMOU CONTA DE TUDO/ GEROU UMA LEVA DE BOMBACHUDOS/ QUE SINTETIZAM UMA OFENÇA/ AQUEM SABE AS DIFERENÇAS/ ENTRE O CAVALO E O CUIUDO. DESSES TEM AOS FARDOS POR AÍ/ BEM DOS METIDOS E GAVOLAS/ E NÃO DIFEREM LAÇO DE PIOLA/ FALAM TI EM VEZ DO TCHÊ/ VÃO NOS FANDANGOS DE CTG’S/ SÓ PRA ABUSAREM DAS PRENDAS/ E TEM ATÉ QUEM OS DEFENDA/ EM VEZ DE BOTAR PRA CORRER. AINDA BEM QUE DO PASSADO/ QUASE TUDO VIROU HISTÓRIA/ E SÓ GUARDAMOS NA MEMÓRIA/ AQUILO QUE NOS ENGRANDESSE/ O GAÚCHO DE ONTE PERMANESSE/ COMO O FIADOR DESTE ESTADO/ E QUANDO MORRE VAI ENROLADO/ NA SAGRADA BANDEIRA DO RS.

Heranças

NESSAS GAMBETIADAS DA VIDA/ LEVO O MEU DESTINO TRAÇADO/ DANDO PAU NOS APORREADOS/ E BOTANDO BALDA EM CHINA/ ISSO APRENDI SEM ENCINA/ NA BELA REGIÃO MISSIONEIRA/ DONDE TRUCE PRA PARCEIRAS/ ADAGA E BOTEJA DE CANGIBRINA. A BOTEJA CARREGO CHEIA/ DESSA BENDITA ÁGUA BENTA/ E BOFE POR BOFE ARREBENTA/ MAS NÃO DESTRÓI OS ANSEIOS/ SÓ NELA ENCONTRO MEIOS/ DE OCUPAR AS HORAS VAGAS/ JÁ NO “ESSE” DA MINHA ADAGA/ É QUE ESCORO TEMPO FEIO. ISSO NÃO É MERA LOROTA/ GOSTO MESMO DE PATAQUADA/ SOU DO TIPO VENTA RASGADA/ DOS BEM TEATINO E ARAGANO/ E O GOLPE POR MAIS TIRANO/ NÃO ME ARRANCA DO LOMBILHO/ NEM FAZ MENOS CAUDILHO/ ESTE ANDARENGO CIGANO. E MESMO NESSA RUDE FILOSOFIA/ DE SER MAIS UM INDIO VAGO/ TENHO PATRIA E TENHO PAGO/ SÓ NÃO TENHO É PARADEIRO/ E SE NÃO FOSSE UM MISSIONEIRO/ TERIA OUTRAS VOCAÇÕES/ PARA REVIVÊNCIAR AS MISSÕES/ QUE DOS COSTUMES SOU HERDEIRO.

MEU RELATO / INÉDITA

DA HISTÓRIA FIZ ESTES VERSOS/ QUE INTITULEI – MEU RELATO/ POR SER VERDADE – UM FATO/ QUE RESULTOU NUMA MORTE/ O MAULA ERA TAURA FORTE/ MAS COM A CARCAÇA FERIDA/ ACABOU DANDO ADEUS A VIDA/ NUMA PURA FALTA DE SORTE. EU NADA TINHA COM O PEIXE/ TAL EMBRÓLIO ERA ALHEIO/ QUANDO VI ESTAVA NO MEIO/ TÃO SOMENTE POR METIDO/ ACABEI TOMANDO PARTIDO/ PRA VER DO QUE SE TRATAVA/ E NUMA CURIOSIDADE DESGRAÇADA/ SAI EM FAVOR DUM BANDIDO. MATIAVA SÓLITO E SUCEGADO/ VENDO O REVOAR DE PELINCHOS/ DE SUPETÃO UM RELINCHO/ ACOMPANHADO DE ESTAMPIDOS/ DEPOIS DE ESPICHAR O OUVIDO/ MUITAS COISAS EU MATUTEI .../ E NO MEU PINGO MUNTEI/ PRA TOMAR PÉ DO ACONTECIDO. ENCONTREI UM BAIO ENCILHADO/ GALOPANDO COM CERTO ESPANTO/ ME “CHERO” SER UM CONFRONTO/ AO VER UM HOMEM CAIDO/ APIEI EXAMINANDO O FERIDO/ QUE TEVE FORÇAS PRA DIZER:/ NÃO ME DEIXE EU MORRER/ E DE PRONTO FOI ATENDIDO. COM O MEU LENÇO MARAGATO/ TAPEI OS BURACOS DE BALAS/ ENROLEI O CORPO NO PALA/ DEIXANDO SÓ OS PÉS DESTAPADOS/ E DEI-LHE BOCA PRO GATEADO/ QUE SAIU CORTANDO O VENTO/ A LUTA ERA CONTRA O TEMPO/ ATÉ CHEGAR-MOS NO POVOADO. LEVEI DIRETO A UM DOUTOR/ TIPINHO DOS CABELOS SOLTOS/ DIAGNOSTICOU – ESTA MORTO/ SEM NEM TOCAR O “DEFUNTO”/ DESVIOU PRA “PILA” O ASSUNTO/ EU SEM UM PUTO VINTEM/ DISSE: ATENDE OU TU TAMBÉM/ VAI PRA CIDADE DOS PÉS JUNTOS. CHAMOU POR UMA BRANQUÉLA/ VESTIDA IGUAL ENFERMEIRA/ LIMPOU O SANGUE E A POEIRA/ E INICIARAM UMA OPERAÇÃO/ SE QUARTIAVAM QUATRO MÃOS/ PARA LIVRA-LO DA MORTE/ EM CADA UM DAQUELES CORTES/ SAIA MEIO QUILO DE MUNIÇÃO. DEPOIS DE TODOS OS PROCEDERES/ E O ÍNDIO FORA DO PERIGO/ SAI A PROCURA DO INDIVIDO/ QUE LHE ESTRAGOU O COURO/ SÓ QUERIA DAR UNS ESTOUROS/ PRA NÃO FICAR CANTANDO MARRA/ MAS AVISTO A VIÚVA DO GAMARRA/ SE DESMANCHANDO EM CHORO. ATIREI UM BUENAS PRA ELA/ PERGUNTANDO: O QUE SE PASSA?/ ENTÃO NÃO SABE DA DESGRAÇA/ E CONTOU ALISANDO A TRANÇA/ MINHA FILHA A MAIS CRIANÇA/ POR ALGUEM FOI MOLESTADA/ MAS JÁ TÔ DE ALMA LAVADA/ EU MESMA FIZ A VINGANÇA. FOI COM A ARMA DO FALECIDO/ QUE EU ATIREI NO DESGRAÇADO/ FICANDO NA GRAMA ESTIRADO/ PRA ABUTRES FAZEREM FESTA/ TALVES SÓ PRA ISSO PRESTA/ QUEM NÃO SE DA O VALOR/ E TER MATADO O MAL FEITOR/ É O CONSOLO QUE ME RESTA. SEUS OLHOS MIRANDO O CHÃO/ PARECIAM VERTENTES DÁGUA/ EXPRESSAVA BEM SUAS MAGOAS/ PELA FILHA DE POUCA IDADE/ QUE CHEIA DE SONHO E VAIDADE/ E SEM DAR O CONCENTIMENTO/ TEVE NUM ATO VIOLENTO/ DESFLORADA A SUA VIRGINDADE. PENSEI NAS FILHAS E NAS NÉTAS/ ENQUANTO OUVIA TUDO ISSO/ DAÍ DECIDI ACABAR O SERVIÇO/ E AS PRESSAS DE VOLTA BOLIEI/ NO TAL HOSPITAL ADENTREI/ JÁ EMPUNHANDO UMA FACA/ NO DOUTOR GRUDEI UM TAPA/ MAS NA AJUDANTE NÃO TOQUEI. REVIREI AQUELA PILUNQUEIRA/ FALANDO E RESMUNGANDO ALTO/ VASCULHEI QUARTO POR QUARTO/ ESSE ERA MEU PROPÓSITO E FIZ/ ATÉ QUE TOPEI COM O INFELIZ/ E JÁ FOI AQUELE ESTOURO/ LHE ARRANQUEI O TUBO DE SORO/ TAMBÉM OS CANUDOS DO NARIZ. TIREI O MALDITO PELA ORELHA/ COMO SE FOSSE UM SORRO/ JÁ CHAMANDO DE CACHORRO/ POR SERVIR SÓ PRA ESTORVO/ VAI SABER – QUANDO RESOLVO/ QUE SEI LIDAR COM SANGRIA/ COM QUEM SÓ TEM SERVENTIA/ PRA ENCHER TRIPA DE CORVO. LEVEI PRO TOPO DUMA COXILHA/ COM TUDO JÁ BEM PLANEJADO/ MATAR OU DEIXAR ALEJADO/ ESSE ERA O MEU ÚNICO DILEMA/ MAS DE IMAGINAR A PEQUENA/ NAS GARRAS DAQUELE IMUNDO/ DECIDI EM APENAS UM SEGUNDO/ NÃO TER NENHUM TIPO DE PENA. ANTES DE EFETUAR A DEGOLA/ LHE ESMIUCEI TODOS OS MOTIVOS/ PELOS QUAIS NÃO FICARIA VIVO/ NUMA CONVERSA BEM SÉRIA/ TUA ALMA DEIXARÁ A MATÉRIA/ PARA PULGAR PELO MUNDO/ E METI A FOLHA BEM FUNDO/ ROMPENDO A VEIA ARTÉRIA. CHEGOU ME ARRIPIAR O PELO/ O BERRO QUE O TRASTE DEU/ MAS EM MIM NADA DOEU/ E NEM COM REMORSO FIQUEI/ ENQUANTO ELE MORRIA FALEI:/ VAI PARA O INFÉRNO VAI .../ TU ABUSOU UMA FILHA SEM PAI/ POR ISSO EU TE ASSASSINEI. DEPOIS FUI SAINDO A DESPACITO/ O ATO JÁ “TAVA” SACRAMENTADO/ OLHEI PARA TODOS OS LADOS/ MAS NEM UMA VEZ PARA TRÁS/ E NO HORIZONTE PERCEBI A PAZ/ VOLTANDO AOS GAMARRAS E VIEIRAS/ E DE LIÇÃO FICA PROS BAGACEIRAS/ O ESTRAGO QUE UMA FACA FAZ.

RINCÃO DA PEDRA BRANCA

SOU CRIOULO DE SÃO NICOLAU/ CHAPÉU QUEBRADO NA TESTA/ MISSIONEIRO QUE TEM MESCLA/ DE VELHAS GERAÇÕES E VINDOURAS/ HERANÇA DA MINHA GENITORA/ QUE PARIU NESTE INIVERSO/ QUEM HOJE SAÚDA EM VERSO/ O RINCÃO DA PEDRA MOURA. ESTA HOMENAGEM CAMPECHANA/ QUE FIZ ASSIM NUM REPENTE/ PRA SÔNIA E O MAURO SINFUENTE/ MANTENEDORES DESTE GALPÃO/ ONDE TODOS VIRAM IRMÃOS/ E SE SENTEM BEM AVONTADE/ PRA EM NOME DA LIBERDADE/ CULTUAR-MOS JUNTOS A TRADIÇÃO. A TRADIÇÃO É QUEM NOS “ERMANA”/ BEM NOS CONFORMES PRIMITIVOS/ AQUI NESTE TEMPLO NATIVO/ RODEADO DE ÁRVORES ANTIGAS/ ENQUANTO O RANCHO NOS ABRIGA/ MATEAMOS E TOMAMOS TRAGO/ E EXALTAMOS O NOSSO PAGO/ COM GAITAS, VIOLÕES E CANTIGAS.

MALA DE GARUPA

ESTA MALA DE GARUPA/ QUE CARREGO SOBRE O OMBRO/ ÀS VEZES AMORTECE O TOMBO/ QUANDO MAMAU TROMBALEIO/ CAIO E OS CORNOS ESTROPEIO/ FICANDO COM MARCAS DO PORRE/ E SÓ OUTRO LITRO ME SOCORRE/ SE ESTIVER PRA CIMA DO MEIO. ESTA MALA COMPANHEIRA/ FEITA DUM BRIM RISCADO/ SÓ DE UMA ABERTURA NO LADO/ SEM BOTÕES E SEM FECHOS/ ONDE CARAMELOS QUEBRA-QUEIXO/ DESENROLAM DOS EMBRULHOS/ E ANTES DE DAR AOS MANGRULHOS/ ADOÇAM OS DEMAIS APETRECHOS. NUMA PONTA VAI CUIA E ERVA/ FUMO, PALHA E UM ISQUEIRO/ VAI JUNTO A CANHA, O PUCHERO/ CAFÉ E AÇÚCAR DE MELADO/ UM CANECO PRETO AMASSADO/ E LANTERNA DE TRÊS ELEMENTOS/ E UM REVÓLVER MARCA VENTO/ ATÉ AS GOELAS CARREGADO. NA OUTRA DESSA MALA/ CAMISA, CEROULA E BOMBACHA/ JUNTO UM FRASCO DE GRAXA/ PARA “ENGLOSTORAR” AS MELENAS/ E UM RETRATO DA MORENA/ QUE PEALOU MEU CORAÇÃO/ E SEM DIZER POR QUE RAZÃO/ DEIXOU-ME EM DURAS PENAS. POR ISSO EU REPONTO MEUS DIAS/ ENTRE UM PAGO E OUTRO/ SEMPRE NA DOMA DE POTROS/ RETOVADOS E CHEIOS DE MANHAS/ ENQUANTO O CUIÚDO APANHA/ PARA PERDER TAIS MANIAS/ SINTO A BOCA SECA E VAZIA/ LOUCA POR UM GOLE DE CANHA. QUANDO O ANIMAL SE ACALMA/ ATIRO A FRENTE DO PALA/ CAMPEIO O RASGO DA MALA/ ENFIANDO A MÃO E O BRAÇO/ E DEPOIS DUNS TALAGAÇOS/ PROSSIGO MINHA DURA LIDA/ POUCO IMPORTANDO SE A VIDA/ É DE GOLPES E MANOTAÇOS. COM ESSE DESTINO COICEIRO/ BEM DEBOCHADO E FIASQUENTO/ CRESCI CHAMADO DE “BENTO”/ DESDE PIÁ DESPACHADO/ E HOJE UM XIRÚ CALEJADO/ DOS BRETES E DAS RECOLUTAS/ ONDE SÓ A MALA DE GARUPA/ SE MANTEVE NO MEU COSTADO. É BEM ASSIM PARCEIROS/ O VIVER DESTE POBRE CUERA/ QUE SOLITO COMO TAPERA/ SE DESCARNOU COM OS ANOS/ MAS NUNCA FLOXEI O TUTANO/ NEM PELA FALTA DA CHINA/ QUAL JURO TOSAR-LHE AS CLINAS/ PRA ME VINGAR DOS ENGANOS.

MEU RECADO

HOJE AUSENTEI-ME DE MIM/ DEIXANDO QUE O PRECONCEITO RAXE/ E A SAUDADE NÃO ME ACHE/ PRA PARAR COM OS ESTRAGOS/ NO PEITO DESTE ÍNDIO VAGO/ QUE POR NÃO TER CAMBICHO/ ANDA DE BOLICHO EM BOLICHO/ ENCHENDO A CARA DE TRAGO. HOJE VOU TIRAR AS FEBRES/ DA MINHA ALMA E DA CARCAÇA/ COMO FICARÃO SEM CACHAÇA/ SEM SAUDADES E NOSTALGIAS/ AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA/ E COM ELE UMA VIDA NOVA/ DE ATITUDE DAREI UMA SOVA/ EM TUDO O QUE ME JUDIA. E NA BASE DO VAI OU RAXA/ O IMEDIATO AS VEZES TRAVA/ DAQUI EM DIANTE AS PALAVRAS/ MOLHAREI COM ÁGUA PURA/ E PRA CERTAS DESVENTURAS/ JÁ ESTAREI BEM VACINADO/ E SÓ VOU ANDAR ENRABICHADO/ COM CHINAS COM COMPOSTURA.

HOMENS E CAVALOS / INÉDITA

É LINDO O RUFAR DOS CASCOS/ DE UMA MANADA SELVAGEM/ PISOTEANDO AS PASTAGENS/ E OS JUJOS DE ERVAS RARAS/ TROPILHA QUANDO DISPARA/ NÃO SE MEDE O RETOSSO/ CORRE E EMBODOCA O PESCOÇO/ EMPURRANDO O VENTO NA CARA. ESSE XUCRISMO E A LIBERDADE/ UM DIA TROCAM DE NOME/ BASTA AS AÇÕES DOS HOMENS/ COM FREIO, BOCAL E ESPORAS/ E DOIS GARRÕES QUE ESCORA/ UM CORCOVEADOR CABORTEIRO/ QUE ACABA VIRANDO PARCEIRO/ DESSES PRA TODAS AS HORAS. E É AI QUE EU ME REFIRO/ QUE ALÉM DO CUSCO O CAVALO/ É OUTRO GRANDE REGALO/ QUE A GAUCHADA ESTIMA/ PRA SUAS LIDAS CAMPESINAS/ E AS PACHOLICES DE RODEIOS/ ONDE SE MOSTRA NO ARREIO/ COMO SE EZIBI PRAS CHINAS. POR MAIS RUDE OS AFAZERES/ NÃO ATRAPALHAM SÓ “AJUDA”/ E A PARTE MAIS MACANUDA/ NA VIDA QUE LEVA UM PEÃO/ É AOS DOMINGOS PELO RINCÃO/ COM AS PRENDAS FAZER MÉDIA/ E AOS POUCO FLOXAR AS RÉDIAS/ DO CANDONGUEIRO CORAÇÃO. E QUANDO SE ATA UM NAMORO/ COM CORDA FORTE DO CUPIDO/ O VIVER GANHA MAIS SENTIDO/ E O SEMBLANTE AFORMOSEIA/ A TAL DE PAIXÃO INCENDEIA/ PORQUE UMA COISA É CERTA/ RANCHO COM PORTAS ABERTAS/ FELICIDADE DA ÔDE CASA E APEIA. MAIS OU MENOS ASSIM O VIVER/ DE QUEM LIDA COM CAVALOS/ UM DIA SE ENREDA NUM PEALO/ DE UM OLHAR FEITICEIRO/ E COMO DIZ ALGUNS PARCEIROS:/ O AMOR NÃO TEM RECEITA/ E NEM A VIDA FOI FEITA/ SÓ PRA SE GANHAR DINHEIRO.

PEALO DO DESTINO / INÉDITA

NÃO LEMBRO O MÊS NEM O ANO/ QUE DIRÁ LEMBRAR O DIA/ MAS ESTUFADO DE REBELDIAS/ DEIXEI OS PAIS E O CAVALO/ SAÍ MESMO QUE UM GALO/ DESSES MESTIÇO A FINO/ SEM SABER QUE O DESTINO/ ME DARIA UM BAITA PEALO. RUMEI PRA CIDADE GRANDE/ EM BUSCA DE UM TRABALHO/ MAS NO JOGO DE BARALHO/ PEDIA CARTA E ME VINHA/ PERDI O QUE AINDA TINHA/ ALÉM DO QUE FOI ROUBADO/ E COMO UM TREM DESGOVERNADO/ LOGO FUI SAINDO DA LINHA. NÃO LEVOU MUITO TEMPO/ MULHERES, JOGOS E CACHAÇA/ FOI O TRIO DA MINHA DESGRAÇA/ E SE A GENTE NÃO FREIA/ CADA VEZ FICA MAIS FEIA/ E DESCAMBA ATÉ PRAS BRIGAS/ NUMA TIREI UMA VIDA/ PUXANDO TRINTINHA DE CADEIA. NO INFERNO DESSA PRISÃO/ UM HOMEM SUJO E FEDIDO/ ONZE MIL DIAS PERDIDOS/ NUM VERDADEIRO ENTULHO/ ALUCINADO PELO BARULHO/ TIVE PROBLEMAS AUDITIVOS/ E MESMO SAINDO VIVO/ UMA HISTÓRIA SEM ORGULHO. LIVRE VI O SOL POR INTEIRO/ SEM GRADES NA MINHA FRENTE/ E UM MUNDARÉU DE GENTE/ DE ONIBUS SEREM ESPELIDOS/ E POR ME SENTIR EXPREMIDO/ FOI ME BATENDO UM PAVOR/ DAÍ INVEREDEI PRO INTERIOR/ DONDE NÃO DEVIA TER SAIDO. APÉZITO ENCURTEI DISTÂNCIA/ DA CIDADE ATÉ AQUI FORA/ MAS AS ÂNCIAS DAS HORAS/ MEDAVA PRESSENTIMENTOS/ PASSAVA MIL PENSAMENTOS/ COM IMAGENS DA FAMÍLIA/ E LÁ DO ALTO DA COXILHA/ AVISTEI O RANCHO AO RELENTO. PORTEIRA ATIRADA PRA TRÁZ/ CASA UMA TAPERA PODRIDA/ DENTRO NEM SINAL DE VIDA/ SENTI BAQUEAR MEU CORAÇÃO/ FUI ME ENCHENDO DE EMOÇÃO/ E UMAS PALAVRAS GAGUEJEI/ E PRAS PAREDES PERGUNTEI:/ TEUS DONOS A ONDE ESTÃO? SEM RESPOSTA SAÍ NOS FUNDO/ SENTANDO NO BOCAL DO POÇO/ ALI QUANDO EU ERA MOÇO/ FICAVA CONTEMPLANDO A LUA/ NISSO A NETA DA SIA XIRUA/ FALOU: VEIO VISITAR SEUS PAIS?/ MAS ELES NÃO VIVEM MAIS/ MORRERAM DE SAUDADE SUA! MAIS UMA CASCATA DE LÁGRIMAS/ DE MEU CHORO ENCONTIDO/ DAÍ OUVI UM: VEM COMIGO/ VAMOS COSTIAR O ALAMBRADO/ SEI ONDE ESTÃO ENTERRADOS/ E O NÚMERO DAS SEPULTURAS/ COM BRÉJO QUASE NA ALTURA/ DOS RETRATINHOS AMARELADOS. ISSO FOI O QUE MAIS DOEU/ ENTÃO COMECEI EVOCAR JESUS/ ME BENZI FRENTE AS CRUZ/ E NO CHÃO OS JOELHOS DOBREI/ “IN MEMÓRIA” AOS DOIS REZEI/ E DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO/ PEDI MAIS DE MIL “PERDÃO”/ PORQUE UM DIA OS ABANDONEI! ME SENTIA UM FILHO INGRATO/ E POR DENTRO GRANDE REVOLTA/ CONTEI A DEMORA DA VOLTA/ E SE ME CONCEDIAM A PERMISSÃO/ DE MORAR NO CARAMANCHÃO/ E FICAR LÁ ATÉ MORRER/ MESMO SABENDO - NÃO TER/ OS PARCEIROS PRO CHIMARRÃO. AS NOITES ME É UM CASTIGO/ E ALÉM DAS FORTES VENTANIAS/ TUDO PRA MIM É MELANCOLIA/ E NO ESCURO NADA EU VEJO/ SÓ AS VEZES NUM LAMPEJO/ PRESCINTO PRESENÇA DE ALGUEM/ DUM HOMEM – UM BUENAS VEM/ DUMA MULHER – GANHO UM BEIJO. VISITAS NÃO ME ENCOMODAM/ PELO CONTRÁRIO – ME ACALMA/ ATÉ ME EMBRIAGA A ALMA/ E O SONO VAI SE APROCHEGANDO/ ME ACORDO COM GALOS CANTANDO/ PRA MAIS UM DIA DE SAUDADE/ QUE APESAR DE SER VERDADE/ NÃO ESTOU ME CONFORMANDO. BUENO ENTÃO PARCEIROS(AS)/ POR AQUI ENCERRO O RELATO/ QUE RESUMI DE ALGUNS FATOS/ DECORRENTE DA MINHA VIDA/ NUNCA DEI BATALHA POR PERDIDA/ E PRENHAS AGENTE NÃO APURA/ TAMBÉM SEI NÃO EXISTIR CURA/ PRA CERTOS TIPOS DE FERIDAS!

SOMBRA DO OITÃO / INÉDITA

QUANDO A SOMBRA DO OITÃO/ AOS POUQUITOS SE AGRANDA/ RÉSTIAS DE SOL NA VARANDA/ VEM ESPIAR LÁ PRA DENTRO/ E ESSE RITUAL PACHOLENTO/ NINGUEM SABE ONDE MORA/ SE, SE PREOCUPA COM AS HORAS/ E COM A PRESSA DOS VENTOS. ASSIM SE CUMPRE O CICLO/ DE OUTRO DIA QUE SE ALONGA/ E EU NUMA DELICIOSA SOMBRA/ MATEIO E O CUSCO DORME/ E PARA QUE NÃO ACORDE/ NEM EU LHE SIRVA DE ESTORVO/ EM CADA MATE QUE SORVO/ BOTO OS PENSAMENTOS EM “ORDE”. PRIMEIRO PENSO NAS CHINAS/ QUE COMIGO SE AMUNTUARAM/ NA SAUDADE QUE UMAS DEIXARAM/ E AS LEMBRANÇAS QUE DEIXEI/ NAS CONFUSÕES QUE ARRUMEI/ PARA O MEU POBRE CORAÇÃO/ COM AS QUE ME CEGARAM DE PAIXÃO/ E AS TANTAS QUE EU CEGUEI. PENSO NAS DOMAS DE POTROS/ E DOS CAMPOS TODO LAVRADO/ DO MILHO RESCEM PLANTADO/ DAS MARCAÇÕES E TOSQUIAS/ DE VACAS CHEGADINHAS DAR CRIA/ DAS PENCAS DE CANCHAS RETAS/ E DO RECITAR DE UM POETA/ QUE SE TRANSFORMA EM POESIAS. PENSO NUM CHURRASCO GORDO/ E A GUAMPA CHEIA DE CANHA/ NUM “BAILEZITO” DE CAMPANHA/ NOS RANCHOS DE CHÃO BATIDO/ E NOS GAÚCHÕES DESTEMIDOS/ QUE NÃO SE IMPORTAVAM MORRER/ MESMO SABENDO QUE VIVER/ FOSSE BEM MAIS DIVERTIDO. EU PENSO BASTANTE NA VIDA/ E NO DESTINO SACRAMENTADO/ DE ESTAR NUM BANCO SENTADO/ DE CHALEIRA E CUIA NA MÃO/ EM CADA GOLE DE CHIMARRÃO/ PEÇO A DEUS QUE ME GUARDE:/ DE PARCEIRA OS FINS DE TARDES/ NA BENDITA SOMBRA DO OITÃO.

BIOGRAFIA DE UM MISSIONEIRO

Eu nasci em SÃO NICOLAU/ Mas cresci em SÃO LUIZ GONZAGA/ E muntado nos cola atada/ Muitos caminhos encurtei/ Lhes digo o quanto trabalhei/ Como capataz e tropeiro/ E igual os capins rasteiros/ Busquei uma melhor posição/ Fiz da alma ao coração/ Pra ser poeta MISSIONEIRO. A infância pobre e sofrida/ Foi a minha fiel parceira/ Ganhei e perdi carreiras/ Corridas em cancha reta/ Sempre tive como meta/ Vencer todos os corcovos/ Hoje até canto e trovo/ Mas não me sinto artista/ Sou mais um tradicionalista/ Pajador dos SETE POVOS. E como tantos sem escola/ Peguei o mundo por rumo/ De acertos e erros fui aluno/ Mas nunca estudei pras provas/ Tudo pra mim é como trova/ Na hora da idéia sai/ E como um teatino que vai/ Em busca de liberdade/ Assim eu fiz com pouca idade/ Me mandei longe dos pais. Muitos tombos nessas andanças/ Às vezes quase voltei/ Mas na sorte eu me apeguei/ E nos ditames dos antigos/ Os gaúchos são destemidos/ E a tudo somos “capaz”/ Preservamos sempre a paz/ Com prosa longa e mansa/ E nem numa ponta de lança/ Recuamos um passo pra trás. Por seguir velhos provérbios/ Fui aprendendo a ser homem/ Crendo em lobisomem/ Boitatá e bicho-papão/ Mas no ensolarado verão/ Eu me sentia mais forte/ Vento sul ou vento norte/ Nunca me apressou nas viagens/ Sou peão de muita coragem/ Que não teme nem a morte. Tudo o que fui e o que sou/ Herdei de um humilde leito/ E encravado aqui no peito/ Um coração que bate solto/ Levando pra todo o corpo/ Sangue puro colorado/ Cor deste solo adorado/ Que um dia me viu nascer/ E vai assistir eu morrer/ E nele ser enterrado. Mas pra que isso aconteça/ Já quero estar realizado/ Em dia com meus pecados/ Aqui da querência amada/ Porque na outra invernada/ Até me ataque do bucho/ Sismo lá ter muito luxo/ Pra um xiru de puro sangue/ Que hoje agradece o RIO GRANDE/ Por ter nascido GAÚCHO. Esse é meu único orgulho/ Que carrego junto comigo/ Ter derrubado o umbigo/ Onde dei os primeiros passos/ E me acalentado nos braços/ Dos meus avós já falecidos/ Quais relembro entristecido/ Afogarem as mágoas no trago/ E dizerem que neste pago/ Valeu a pena terem nascido. Daqui não levarei tristezas/ Mas vou deixar saudades/ A meus pais e irmandades/ Desde já eu faço um pedido:/ Convidem todos os amigos/ Pra minha despedida final/ E do JAYME CAETANO BRAUN/ Uns versos bem campeiros/ Ditos por outro MISSIONEIRO/ Do legendário SÃO NICOLAU. Findo aqui minha biografia/ Fazendo a única exigência/ Me plantem junto à querência/ Onde fui parido e criado/ Pois nem mugido de gado/ Me despertará de tal sono/ E naquele cruel abandono/ Minha história se encerra/ O corpo coberto de terra/ A china com outro dono.

PAYADA DE ANIVERSÁRIO

Hoje, eu fiquei mais velho/ Isso é verdade, é um fato/ Cinquenta anos exatos/ Essa é a minha existência/ Toda de intensa vivência/ Onde a minha perseverança/ Dediquei às mulheres e às crianças/ E à TRADIÇÃO da querência. Hoje é SEIS DE NOVEMBRO/ Quinta, com cara de outono/ DOIS MIL E OITO é o ano/ Primavera é a estação/ E eu faço essa comemoração/ Bem a contento do pago/ Metendo churrasco e trago/ Boa música e chimarrão. Hoje, mais uma vez na vida/ Estive matutando o passado/ Quando fui engambelado/ Por essas coisas de achego/ Também dos meus desassossegos/ Que já tive por diversas/ E das que levei na conversa/ Pra sestear nos meus pelegos. Hoje, nesses CINQUENTA ANOS/ Tudo o que contabilizo/ Um rancho por mim erguido/ Com esteios de eucaliptos/ Quatro filhos bem bonitos/ Todos com pensão salgada/ Mais de cem árvores plantadas/ Um CD e oito livros escritos. Hoje, eu agradeço ao céu/ Por viver mais esta data/ Na qual meu verso se desata/ E sai em forma de rimas/ Pedindo à patronagem divina/ Muita paz, saúde e amor/ E sorte para este PAJADOR/ No retouço com as chinas.

TROVA PAYADA

Buenas gaudérios e prendas/ Gerações de antigos e novos,/ Com o maior prazer do mundo/ Que pra vocês hoje eu trovo/ Sou o VALDECIR DA SILVA COELHO/ Um poeta dos SETE POVOS. Um poeta dos SETE POVOS/ Parido em SÃO NICOLAU,/ Cresci escutando as pajadas/ Do JAYME CAETANO BRAUN,/ Hoje trovador surro a verso/ E matungo amanso a pau. E matungo amanso a pau/ Pra isso tenho traquejo,/ E um bom rabo de saia/ Até de longe eu vejo,/ E gosto das bem caborteiras/ Pra esfolar os beiço a beijo. Pra esfolar os beiço a beijo/ Tirando-lhe baldas e manhas,/ E fazer se embriagar/ Só com meu bafo de canha,/ E se sentir uma guecha/ Pra este bagual de campanha. Pra este bagual de campanha/ Criado a moda antiga,/ Dos que campeiam a toca/ No carreiro das formigas,/ Se desaperta atrás das moitas/ E limpa o “foreves” com urtiga. E limpa o “foreves” com urtiga/ Sei tudo quanto é manobra,/ Pra isso nasci teatino/ E coragem tenho de sobra,/ Só não me junto com esses/ Que sentam em cima de cobra. Que sentam em cima de cobra/ Pra macho isso fica feio,/ Eu gosto é das raparigas/ Fandango, carreira e rodeio,/ E entreverado nos buchinchos/ Parto os guampudos no meio. Parto os guampudos no meio/ E fico lambendo o sangue,/ Isso sempre me acontece/ Nos lugares donde eu ande,/ Levando junto comigo/ A marca bagual do RIO GRANDE. A marca bagual do RIO GRANDE/ Me é de muita serventia,/ E o modismo americano/ Nestes pagos não se cria,/ Porque o GAÚCHO é autêntico/ Vinte e quatro horas por dia. Vinte e quatro horas por dia/ Não que eu seja exagerado,/ É puro amor que nós temos/ Pela TRADIÇÃO do Estado,/ E de tão xiru que eu sou/ Chego até dormir pilchado. Chego até dormir pilchado/ Numa tarimba de tento,/ Onde descanso a carcaça,/ Meditando os pensamentos,/ Que o patrão do céu preserve/ Os GAÚCHOS cento por cento. Os GAÚCHOS cento por cento/ Que nos versos de porfia,/ Convido para em setembro/ Lá na ESTÂNCIA DA HARMONIA/ Prestigiarem os eventos/ Com o melhor das cantorias. Com o melhor das cantorias/ Gaita, guitarra e violão,/ Da pinga servida na guampa/ Do churrasco e chimarrão,/ Do bate-coxas ao ar livre/ De levantar o pó do chão. De levantar o pó do chão/ Formando nuvens de poeira,/ Dando a impressão que estou/ Na minha terra MISSIONEIRA,/ Onde num estouro de tropa/ Se grita: Oigaletchê porqueira. Se grita: Oigaletchê porqueira/ Neste momento é o que faço,/ Abro bem forte meu peito/ Pra agradecer este espaço,/ E dizer que um dia eu volto/ Até lá... e um abraço.

DESTREBUCHANDO O PASSADO

Ontonte eu estive sentado/ Nas raízes de uma figueira/ Onde passei a tarde inteira/ Matutando no tal destino/ Qual me forjou um teatino/ Despojado dos preconceitos/ E me cravou fundo no peito/ A cepa guapa de campesino. Na sombra da velha árvore/ Que nasceu um corredor/ Eu, um paisano peleador/ Ali chimarreava solito/ Mascando a palha do pito/ Feito de fumo amarelado/ Cor do canário assanhado/ Que cantarolava bonito. Nesse poeirento corredor/ Um sol forte a brilhar/ E na lonjura o meu olhar/ Seguia o “ferpudo” alambrado/ Que cerca os dois lados/ Do estradão que se vai/ Das MISSÕES até o Uruguai/ Recantos do meu passado. Passado esse que eu fiz/ Desde o dia que nasci/ Mas depois que eu cresci/ Fui me enchendo de manhas/ E nos “rendevus” de campanha/ Eu não passava sem chegar/ Nem que fosse só enxaguar/ As minhas mágoas na canha. Mágoas que eu fui juntando/ Dos longos anos vividos/ E de alguns amores perdidos/ Que não voltei procurar/ Porque um dia vim morar/ Nestes bretes da capital/ Onde o meu sistema bagual/ Não sei onde foi parar. Aqui na capital dos pampas/ Me foi pra sempre negado/ O meu falar agritalhado/ E outros costumes de fora/ Bem como andar de espora/ Fazendo tilintar as rosetas/ Esquentar chaleira preta/ Nesses fogões de agora. Todos os antigos costumes/ Me arrancaram dia a dia/ Hoje a inquietante agonia/ É como as apostas que “perdo”/ E o coração no lado esquerdo/ Atenta para outros lados/ Em busca do velho passado/ Pra não viver de recuerdos. Recuerdos que me adormecem/ E não vejo o fogo apagado/ Nem o meu mate lavado/ Carecendo de uma encilha/ Muito menos na curunilha/ A coruja a bater asas/ Em frente o sol cor de brasa/ Que desce atrás da coxilha. Se vai o sol, se vem a lua/ Mais uma noite chegando/ E aos poucos se adonando/ Da tarde que foi pouca/ Pra tantas lembranças loucas/ Dos tempos de galponeiro/ Onde eu amanhecia de palheiro/ Queimando no canto da boca. Palheiro, cigarro primitivo/ E parceiro da TRADIÇÃO/ Que junto do chimarrão/ Ameniza minhas saudades/ Quem sem ô de casa invade/ O coração deste posteiro/ Um dos tantos MISSIONEIROS/ Desgarrado aqui na cidade. E por ser um desgarrado/ Assim termina meus dias/ Repleto de nostalgias/ Mate, cigarro e trago/ É nisso que encontro afago/ Pra corroer minhas ânsias/ E encurtar as distâncias/ Que apartaram do pago.

BRUSCA MUDANÇA

Maneei as patas do tempo/ Com largas tiras de garrotes/ Pra não me fujir aos pinotes/ Como um potro mal domado/ Meu tão glorioso passado/ Que revivo nas lembranças/ Dos meus tempos de criança/ No interior do meu Estado. Lá nos pagos MISSIONEIROS/ Foi onde nasci e me criei/ E dentro do peito ajoujei/ Pra ficar bem ajoujado/ Muitos recuerdos e afagos/ De chinas cheias de manhas/ Nos “rendevus” de campanha/ Onde eu tomava meus tragos. Hoje nesta cidade grande/ A vida tem outro gosto/ E o sol que queimava meu rosto/ Quando eu era alambrador/ Me faz falta causando pavor/ Nas penumbrentas puperias/ Onde todos os fins de dia/ Sou guitarreiro e cantor. Essa minha brusca mudança/ Esvaziou meu pobre peito/ Arrancando de mim o direito/ De ser um pacholento cuera/ Mas meu pago sei que espera/ Que um dia eu largue da farra/ Trocando por cavalo a guitarra/ Voltando a ser quem eu era.

QUANDO SENTEI PRAÇA

QUANDO SENTEI PRAÇA Deixei meus pais e a prenda/ Cambicho da minha infância/ Também a velha estância/ Onde eu era da capatazia/ Porque o destino um dia/ Convocou este MISSIONEIRO/ Para em outros paradeiros/ Mostrar ser de “buena” cria. Lembro ainda daquele dia/ Quando do pago eu saí/ Até chorei no me despedir/ De tristeza e de emoção/ Me fui acenando com a mão/ Num pingo bem encilhado/ E cá no peito apertado/ Corcoveava o meu coração. A saudade que eu sentia/ Dos pais, do pago e da prenda/ Abriu em mim uma fenda/ Como se abre num estouro/ E meu baio como um touro/ Pateava estrada afora/ Separando-me a cada hora/ Do meu mais nobre tesouro. Fui servir a minha pátria/ Troquei as pilchas por farda/ Pra outros eu tirava guarda/ Para aumentar os mil-réis/ E na casa de alguns coronéis/ A grana às vezes cortava/ Somente assim suportava/ Baixos soldos dos quartéis. Fiquei fora um bom tempo/ Mas irmãos nunca esqueci/ O recanto onde eu nasci/ E muito guapo me criei/ Pra sentar praça deixei/ Contrariado o meu querer/ Mas cumprido o tal dever/ No mesmo dia eu voltei. Encontrei no meu regresso/ A prenda linda e bela/ E como vasos na janela/ Meus pais quase no “serno”/ Suportando bem os invernos/ E também a minha ausência/ A distância foi-me um inferno. Cheguei roxo de saudades/ Um a um fui abraçando/ E com orgulho mostrando/ Meu honroso certificado/ Escrito a punho e assinado/ Pelo próprio comandante/ Mas de tudo o mais importante/ Foi ao pago eu ter voltado.

NA CALADA DA NOITE

NA CALADA DA NOITE Na calada da noite/ O candeeiro do sol se apaga/ Solito eu volto pra casa/ Um rancho de barro e capim/ Onde esperam por mim/ A china e meus piás/ Que não cansam de “esperá”/ A tarde chegar ao fim. Quanta alegria eu sinto/ Quando volto pro descanso/ Encontro no rancho o encanto/ De quem nele me espera/ Um dos piás abre a cancela/ O outro desencilha o pingo/ E a china se achega rindo/ Cada vez mais linda e bela. Chimarreio pelo terreiro/ E antes de entrar no rancho/ Penduro os trastes num gancho/ E o cavalo solto no pasto/ Sovado de cincha e de basto/ Fica pastando por perto/ E nem nota o alambrado aberto/ Que pelo tempo foi gasto. Depois da sagrada ceia/ Pra china ponteio a guitarra/ Os piás parceiros de farras/ Me acompanham cantarolando/ Até que o sono vá chegando/ Fazendo o seu arremate/ E nos pelegos dos catres/ Pais e filhos vão se aquietando.

ROMANCE DO SAPUCAI

ROMANCE DO SAPUCAI Destramelei da minha garganta/ Um sapucaí bem largado/ Fiz me ouvir do outro lado/ Por uma “malaguenha” correntina/ Que nas ribanceiras platinas/ Me acenou quando me viu/ Daí botei o peito no rio/ E me cambiei pra Argentina. Atravessei a nado o Uruguai/ Com meia dúzia de braçadas/ Cheguei onde a “gueina” estava/ Rezando que eu chegasse vivo/ E num abraço afetivo/ Contou-me todas suas mágoas/ Pedindo com os olhos rasos d’água/ “Muchacho me levas contigo”. No mesmo instante voltei/ Lhe trazendo de contrabando/ E novamente varei nadando/ As águas turvas do Uruguai/ Pra ter hoje quem me distrai/ Num rancho simples de campanha/ Onde relembro essa façanha/ Como: o romance do sapucaí. Mas se um dia por ventura/ Aparecer alguns castelhanos/ Querendo melar meus planos/ Com tentativa de reviravolta/ Do tamanho do RIO GRANDE/ E nem que me custe o sangue/ Minha castelhana não volta.

XUCRO OFÍCIO (DOMA)

NUMA MANHÃ DE SEGUNDA-FEIRA/ O SOL RECÉM MOSTRAVA A CARA/ ENTRE AS MOITAS DE TAQUARA/ E OS GALHOS DE SALSO CHORÃO/ I EU JÁ AS VOLTAS DUM REDOMÃO/ TENTIAVA AJEITAR MEUS CACOS/ MAS NÃO ME DEIXAVA O VELHACO/ NEM SEQUER SENTAR O XERGÃO. RINCHAVA E MORDIA O PALANQUE/ ATÉ DE FORMA VIOLENTA/ ABRIA UM PALMO DE VENTA/ A RESPIRAÇÃO DO ENDIABRADO/ QUE ME DEIXOU ENCASQUETADO/ COM TUDO O QUE TINHA ME FEITO/ ENTÃO RESOLVI DO MEU JEITO/ TIRAR A CISMA DO APORREADO. AMARREI CONTRA A TRONQUEIRA/ DAS ORELHAS ATÉ A BOCA/ UNI AS PATAS UMAS NAS OUTRAS/ ATÉ QUE FOSSE ENCILHADO/ E DEPOIS DE BEM MONTADO/ DEIXEI QUE SAÍSSE CAMPO AFORA/ SE RASGANDO NAS MINHAS ESPORAS/ E APANHANDO DOS DOIS LADOS. FOI COISA BEM LINDA DE VER/ NÓS NUM DESCAMPADO SOLÍTOS/ ELE CORCOVEANDO I EU DANDO GRITOS/ E BATENDO DE CIMA PRA BAIXO/ PORQUE DEPOIS QUE ME ENCAIXO/ E ME SEGURO NAS CLINAS/ NINGUÉM ME BOLEIA DE CIMA/ NEM QUE EU “TEJA” BORRACHO. DAÍ MESMO QUE EU NÃO CAIO/ QUANDO ESTOU MEIO FLOREADO/ ME AGARRO IGUAL MACEGA EM BANHADO/ E ESTACA EM TERRA BATIDA/ POR POUCO NÃO ARRISCO A VIDA/ MAS DAS PATAQUADAS NÃO DEIXO/ E O POTRO QUE EU QUEBRO O QUEIXO/ FICA BOM PRA TODAS AS LIDAS. E COM ESSE NÃO FOI DIFERENTE/ MAIS UMA FEITA SEM TOMBO/ MAIS UM SEM COSCA NO LOMBO/ ASSIM O RITUAL DETERMINA/ FICAR “BUENO” PRAS CAMPESINAS/ E PRAS FESTANÇAS NOS RODEIOS/ ONDE QUASE SEMPRE ME ENLEIO/ NOS AGRADOS DE ALGUMA CHINA. É ISSO QUE ME PAGA AS ESFREGAS/ QUE SOMO DE TANTAS DOMAS/ E AFLORA A ESPERANÇA CHIMARRONA/ EXISTENTE DENTRO DE MIM/ PORQUE ENQUANTO GRAMA É CAPIM/ VERDEJAREM CAMPOS E CORREDORES/ O XUCRO OFÍCIO DOS DOMADORES/ POR CERTO JAMAIS TERÁ FIM.

ORAÇÃO DO CHIMARRÃO

(AUTOR: PE. BRUNO PEDRO RABUSKE - COM PEQUENAS ADAPTAÇÕES POR: VALDECIR COELHO, DEVIDAMENTE AUTORIZADO) PATRÃO DA QUERÊNCIA ETERNA, QUERO AGRADECER O DOM DO CHIMARRÃO, FRUTO DA ERVA-MATE. SUA COR VERDE LEMBRA A ESPERANÇA NUM MUNDO MELHOR. A BOMBA DO CHIMARRÃO, SUGANDO A ÁGUA QUENTE É SINAL DE VIDA E SAÚDE. A CUIA ARREDONDADA É SÍMBOLO DE AMOR UNIVERSAL E QUAL CARINHOSAMENTE CHAMAMOS DE SEIO MORENO. A RODA DE CHIMARRÃO SIMBOLIZA HOSPITALIDADE ENTRE SEUS ADEPTOS. PATRÃO DA QUERÊNCIA ETERNA, TE AGRADEÇO O DOM PELO CHIMARRÃO COMO REMÉDIO PARA O CORPO E ESTIMULANTE PARA O ESPÍRITO. A SEIVA ELEMENTO NUTRITIVO PROVINIENTE DA ERVA-MATE, ALÉM DE SACIAR A SEDE FORTALECE O ORGANISMO. PATRÃO DA QUERÊNCIA ETERNA, FAZ COMPRENDER QUE TOMAR CHIMARRÃO SOZINHO PERDE GRANDE PARTE DE SUA EFICÁCIA. QUANTOS CAUSOS EM VOLTA DO FOGO DE CHÃO, ENTRE UM MATE E OUTRO SE CONSOLIDAM AS AMIZADES. PATRÃO DA QUERÊNCIA ETERNA, ATÉ O SILÊNCIO ENTRE UMA TRAGADA E OUTRA DO CHIMARRÃO VIRA NUMA VIRTUDE. QUANTAS PESSOAS JÁ NÃO SE UNIRAM POR CAUSA DO CHIMARRÃO?

FILOSOFANDO NO SOU

EU SOU UM JOÃO NINGUÉM/ O FAZ TUDO DE UMA ESTÂNCIA/ SOU UM FARDO DE IGNORÂNCIA/ QUE ME NORTEIA AS REBELDIAS/ SOU VENDAVAL À REVELIA/ UM POUCO PRA CADA LADO/ SOU ESTE MEU PALAVREADO/ QUE APONTA DONDE SOU CRIA. EU SOU UM BUGRE TAFONEIRO/ QUAL DESCONHECE SUA RAZÂO/ SOU O VELHO OFÍCIO DE PEÃO/ DEIXADO DE PAI PRA FILHO/ SOU OS APEROS QUE ENCILHO/ MEU FLETE VENTA RASGADA/ SOU A SOLIDÃO DA ESTRADA/ QUE NUNCA PERDE O TRILHO. EU SOU O CORIMBATA NAMORADOR/ DAS TARAÍRAS APAIXONADAS/ SOU UM POETA QUE DO NADA/ DISTRINCHA RIMAS PRÁ FORA/ SOU UMA CRIANÇA QUE CHORA/ SAUDOSA DA MÃE E DO PAI/ SOU UMA ESTRELA QUE CAI/ ENTRE O POR DE SOL E AURORA. EU SOU O PAVIO DA LAMPARINA/ QUE CLAREIA E ENFUMAÇA/ SOU RETOSSO E SOU PIRRAÇA/ VINDOS DE ONDE NÃO SEI/ SOU TENTOS QUE JÁ TRANCEI/ NA SOMBRA DO CARRAMANCHÃO/ SOU OS CONFINS DO MEU RINCÃO/ QUE A CAVALO EU DEMARQUEI. EU SOU A PUA DE CRAVADOR/ DE UM CALCUTA NO RINHADEIRO/ SOU PROSA DE MISSIONEIRO/ CALCADA NA FILOSOFIA/ SOU UM POUCO A CADA DIA/ DA MINHA ANTIGA QUERÊNCIA/ SOU A MAIS PURA ESSÊNCIA/ DA MAIS CRIOULA POESIA. EU SOU UM GURI TAGARELA/ QUE INDAGA TUDO AO PAI/ SOU O PERCURSO DO URUGUAI/ SUAS CORRENTEZAS E REMANSOS/ SOU ALGAZARRAS DE GANSOS/ NAS MANHÂS DE VERÃO/ SOU UM NACO DA TRADIÇÃO/ QUAL EXALTÁ-LA NÃO CANSO. EU SOU A MARETADA QUE LAMBE/ AS ENCOSTAS DOS RIOS/ SOU UMA ONDA DE FRIO/ QUAL DEIXA O TEMPO CARRANCUDO/ SOU UM POTRILHO ORELHUDO/ QUE NASCE PEDINDO CANCHA/ SOU GAITA QUE SE DESMANCHA/ NUM VANERÃO BEM CUIÚDO. EU SOU UM FUNDO DE POÇO/ COM ÁGUA LIMPA E CALMA/ SOU OS DEVANEIOS DA ALMA/ QUANDO A VIDA ANDA A TOA/ SOU A CANTIGA QUE ECOA/ DEBAIXO DE UMA RAMADA/ SOU A GUAIACA RECHEADA/ QUANDO A QUARTIADA ANDA BOA. EU SOU UM BUGIO VELHO/ RONCADOR DENTRO DA MATA/ SOU A QUEDA DA CASCATA/ QUE VAI MORRER NO RIACHO/ SOU O DOCE RAPA DE TACHO/ ONDE FERVEU A “GUARAPA”/ SOU OS CONTORNOS DO MAPA/ E DENTRO DELE EU ME ACHO. EU SOU UMA RUDE MUNHECA/ QUE BOLINA NUM TECLADO/ SOU PACHOLENTO E LARGADO/ CONFORME MINHA VÓ QUERIA/ SOU LEMBRANÇAS QUE JUDIA/ O CORAÇÃO DE UM MATUTA/ SOU PENITÊNCIA DUM RECRUTA/ EM PRONTIDÃO NOITE E DIA. EU SOU UM CORAÇÃO DE MÃE/ BATENDO POR MUITOS FILHOS/ SOU PARILHEIROS NOS TRILHOS/ NA PENCA DE CANCHA RETA/ SOU A CANÇÃO PREDILETA/ QUE TOCA FUNDO A EMOÇÃO/ SOU MANGUEIRA DE VAREJÃO/ ONDE A BOIADA SE EMBRETA. EU SOU O GRITO DE TIARAJÚ/ QUE “ESTA TERRA TEM DONO”/ SOU A ESPADA DUM TIRANO/ COM QUAL CORTAVA GARGANTA/ SOU A VOZ QUE SE LEVANTA/ EM DEFESA DO RIO GRANDE/ SOU PÊLO DURO PURO SANGUE/ UM CUIÚDO DAS PERCANTAS. EU SOU UM GORDO DE TRAPO NOVO/ E AS CRINAS DURA DE PASTA/ SOU UMA “SUERTE” MADRASTA/ QUE AO INVÉS DE DAR TIRA/ SOU LAÇO CASCA DE IMBIRA/ TRANÇADO NA MODA LOUCO/ SOU HOJE UM DOS POUCOS/ QUE NO PASSADO SE INSPIRA. EU SOU AS RAÍZES DE ANGICO/ ENTRANHADAS DENTRO DO CHÃO/ SOU A MESCLA DA EVOLUÇÃO/ COM OS TEMPOS DE “ANTANHO”/ SOU PENITÊNCIA DO FANHO/ DE ENTENDER-SE PELA FALA/ SOU BAILÉCO DESFEITO À BALA/ E O CANTAROLAR DO ESTANHO. EU SOU A CERTA INCERTEZA/ POSSEIRA NOS CORAÇÕES/ SOU O DE REDOR DOS FOÇÕES/ SECANDO MIJO DOS CUEIROS/ SOU UM VELHOTE SOLTEIRO/ QUE SEMPRE REJEITA AJOJO/ SOU LEITE TIRADO NO APOJO/ SOB O OLHAR DO TERNEIRO. EU SOU UM GATO VELHO TÍSICO/ ARRINCONADO NUMA TAPERA/ SOU JARDINS NA PRIMAVERA/ E O CÉU QUE CEDO AZULA/ SOU SAPATEADO DE CHULA/ COM O ESTALO DAS CHILENAS/ SOU O TOREIO DE UM VENTENA/ DE TE ARREMANGA E ME PULA. EU SOU UM CIGARRO DE PALHA/ ENFIADO ATRÁS DA ORELHA/ SOU TEMPORAL QUE DESTELHA/ SÓ O RANCHERIO DE POBRE/ SOU DESSES METAL NOBRE/ QUE CAUSA COBIÇA E DESGRAÇA/ SOU OS BUSTOS NAS PRAÇAS/ FEITOS DE BRONZE OU DE COBRE. EU SOU UM GAÚCHO MACANUDO/ QUE JÁ NASCEU BEM GUAPO/ SOU UM DAQUELES FARRAPOS/ QUE AJUDOU FAZER HISTÓRIA/ SOU DERROTA, SOU VITÓRIA/ NO ATORDOADO BRASIL NOVO/ SOU ESSE EMPERRADO POVO/ QUE ESQUECEU TER MEMÓRIA. EU SOU A LÁBIA DO PASTOR/ FALANDO EM NOME DE DEUS/ SOU REBULIÇO QUE SUCEDEU/ PRÁS BANDAS DO BORORÉ/ SOU UM INXURIÇADO JAGUANÉ/ DO ANDAR BEM CADENCIADO/ SOU BIONGO TODO BARREADO/ E COBERTO COM SANTA FÉ. EU SOU A TAL BOCA DA NOITE/ CHEIA DE MALÍCIA E MISTÉRIO/ SOU O DESTEMOR DO GAUDÉRIO/ QUE NÃO SE MICHA PRA NADA/ SOU O PERCURSO DA LAÇADA/ QUE CARECE DE DESTREZA/ SOU FAÇANHA E SOU PROEZA/ DE UM TAURA VENTA RASGADA. EU SOU UM CLARIM CHAMANDO/ PARA O TOPO DAS COXILHAS/ SOU BATE CASCO DA TROPILHA/ QUE SEGUE PISOTEANDO O PASTO/ SOU O UNIVERSO TÃO VASTO/ DE RIBANCEIRAS E ENCOSTAS/ SOU PERGUNTAS SEM RESPOSTAS/ E O VOCABULÁRIO JÁ GASTO. EU SOU LAÇO DE DOZE BRAÇAS/ ENRODILHADO BATENDO COLA/ SOU A TAL DOR DA DEGOLA/ E O ESTRAGO QUE A FACA FAZ/ SOU LENÇO BRANCO DA PAZ/ ACENADO POR UM CHARRUA/ SOU MISTIÇO QUE NÃO RECUA/ NENHUM PASSO PARA TRÁS. EU SOU UM PIAZOTE GARGOSO/ DESCONFIADO E ESPICULA/ SOU QUEM A GENTE NÃO ADULA/ E NEM SE OFERTA CARINHO/ SOU UM ANDARENGO SOZINHO/ QUE POR GOSTO VIVE ASSIM/ SOU AS MISSÕES DONDE VIM/ TRILHAR UM NOVO CAMINHO. EU SOU UMA ANTIGA TRINCHEIRA/ HOJE FORA DOS COMBATES/ SOU A SÉSTIA NUM CATRE/ PRA ESTICAR BEM A CARCAÇA/ SOU MAIS UM ANO QUE PASSA/ E NADA AQUI SE ENDIREITA/ SOU O VELHO GILDO DE FREITAS/ BRIGANDO E ACHANDO GRAÇA. EU SOU UM BANDO DE LOUCOS/ CORRENDO E DANDO GRITOS/ SOU OS CONFINS DO INFINITO/ QUAL A CIÊNCIA NÃO ESTUDA/ SOU PASSAREDO QUE MUDA/ EM MAJESTOSO REVOADO/ SOU O CALAVEIRA ENFORCADO/ NAS TRANÇAS DUMA CLINUDA. EU SOU A INVERNADA DO PEITO/ ONDE SÓ O AMOR CAMPEREIA/ SOU MATRACA QUE DESTRAMBELEIA/ COM GRITOS DE DESACATOS/ SOU IGUAL BICHOS DO MATO/ DE ORELHAS GRANDES E FUCINHUDO/ SOU QUEM NO FINAL DE TUDO/ QUASE SEMPRE PAGA O PATO. EU SOU O CHEIRO DO ALECRIM/ QUE DÁ NO MATO SILVESTRE/ SOU OS RECANTOS DE CAMPESTRES/ COM GRUMINCHAMA E GUABIJÚ/ SOU UM CENTENÁRIO UMBÚ/ ONDE SE REFRESCA O GADO/ SOU AS RIBANCEIRAS DO LAJEADO/ COM FURNAS DE PACA E TATU. EU SOU CATA-VENTO DE MOINHO/ GIRANDO DE LÁ PARA CÁ/ SOU CANÇÕES DO CENAIR MAICÁ/ DE “BOCA EM BOCA” CANTADAS/ SOU A SANGRIA DESATADA/ QUE NEM TONIQUETE ATACA/ SOU O CASAL: REVOLVER E FACA/ QUE TOPAM QUALQUER PARADA. EU SOU O SERENO DA MADRUGADA/ SEM CHEIRO E SEM SABOR/ SOU AS MANHAS DE DOMADOR/ ASSEGURADO SÓ NAS CRINAS/ SOU O CANTIL DA CANGIBRINA/ COM NOME SOBRE A TAMPA/ SOU MANUSIADOR DE POTRANCA/ TAMBÉM TIRO BALDAS DA CHINA. EU SOU URUTAU E ARAPONGA/ NUM DUETO DE PEITO ABERTO/ SOU CHUVA NO TEMPO CERTO/ PRA GRANAR GRÃOS NA ESPIGA/ SOU OS EFEITOS DAS URTIGAS/ QUE COÇA E TAMBÉM ARDE/ SOU MEDONHO “BUENAS TARDE”/ COM FACÃO MARCA FORMIGA. EU SOU A TAL DE PINDAÍBA/ DONDE O “POVÃO” NUNCA SAI/ SOU O CURISCO QUE CAI/ NAQUILO QUE LHE CONVÉM/ SOU O MUNDO SEM NINGUÉM/ SÓ COM MUQUIRANA E PIOLHO/ SOU QUEM GRELA O OLHO/ NUM RECHOCHUDO RECAVÉM. EU SOU O RIO GRANDE DO SUL/ MUNDO VELHO SEM PORTEIRA/ SOU A TRICOLOR BANDEIRA/ QUE HASTEIO DENTRO DE MIM/ SOU FRAGÂNCIA DE JASMIM/ FLOR SÍMBOLO DO UNIVERSO/ SOU MEUS SINGELOS VERSOS/ QUE AQUI NO “MÁS” CHEGAM AO FIM.

CONSELHO

SOU MISSIONEIRO DO PELO DURO/ FORJADO NO SISTEMA ANTIGO/ MAIS UM QUE CUROU O UMBIGO/ NAS ARAGENS DAS “INTEMPERIAS”/ E TIVE ESCULPIDO NA MATÉRIA/ ESTA LIBERDADE DE IR E VIR/ E DE MEUS FILHOS VEM O ELIXIR/ QUE NUTRE MINHA ALMA GAUDÉRIA. EU ATÉ NÃO ME RECONHEÇO/ QUANDO LONGE DAS MINHAS CRIAS/ POR MAIS QUE SUAS ESTREPOLIAS/ ME BRANQUEIAM OS CABELOS/ TRATO TODOS COM CARINHO E ZELO/ COM ELES NUNCA ME AMOLO/ E AGARRO TODOS NO COLO/ PRA REPARTIR OS CARAMELOS. ASSIM ELES VÃO SE CRIANDO/ INGALFINHADOS NO MEU PESCOÇO/ EU ENVELHEÇO, ELES FICAM MOÇOS/ E NESSE TRANCO A VIDA VAI/ DESPACITO COMO O RIO URUGUAI/ QUE “SONGAMONGUEANDO” AVANÇA/ FICANDO SÓ O PAGO DE HERANÇA/ CONFORME RECEBI DO MEU PAI. NÃO FAÇO NENHUMA EXIGÊNCIA MAS ME PERMITAM UM CONSELHO/ JÁ QUE OS PAIS SERVEM DE ESPELHO/ PROS FILHOS SEGUIREM VOCAÇÃO/ TOMEM GOSTO PELA TRADIÇÃO/ SE ISSO NÃO VIER NO SANGUE/ E PRA DEFESA DO RIO GRANDE/ TRANQUEM BEM FIRME O GARRÃO.

TCHÊ AMO

GASTEI O MEU AMOR TE AMANDO/ PORQUE QUERIA SER AMADO/ GASTEI MEU TEMPO AO TEU LADO/ ATIÇANDO OS MEUS DESEJOS/ GASTEI TODOS OS MEUS BEIJOS/ E ATÉ MEUS OLHOS GASTEI/ E DE TANTO QUE JÁ TE OLHEI/ HOJE MAIS NADA EU VEJO. GASTEI “MILES” PENSAMENTOS/ EM NOITES DE “SOLIDÃO”/ GASTEI SENTIMENTO E PAIXÃO/ O QUE POR TI TENHO MUITO/ GASTEI TODOS OS MEUS ASSUNTOS/ DISTRINCHADITOS COM CALMA/ GASTEI OS QUERERES DA ALMA/ TENTIANDO DE TI FICAR JUNTO. GASTEI AS MINHAS VONTADES/ FAZENDO AS VONTADES TUA/ GASTEI A CLARIDADE DA LUA/ CÚMPLICE DOS MEUS SEGREDOS/ GASTEI AS PONTAS DOS DEDOS/ DE TANTO TE CARINHAR/ GASTEI A VIDA SEM IMAGINAR/ QUE TUDO FINDASSE TÃO CEDO. GASTEI AS SOLAS DAS BOTAS/ DE ANDAR NA TUA PROCURA/ GASTEI PROMESSAS E JURAS/ DE SER TEU ATÉ A MORTE/ GASTEI DISCURSOS FORTES/ SEM LABIA E SEM LADAINHA/ GASTEI O QUE DEU PRA SER MINHA/ MAS NÃO TIVE ESSA SORTE. GASTEI O QUE EU PUDE/ EM NOME DO NOSSO AMOR/ GASTEI UMA INFINIDADE DE FLOR/ SÓ PRA TE FAZER FELIZ/ GASTEI AS POESIAS QUE FIZ/ DURANTE UM LOTE DE ANOS/ GASTEI AS PALAVRAS TCHÊ AMO/ E NEM ASSIM TU ME QUIZ.

QUANDO FUI E QUANDO VOLTEI

QUANDO DEIXEI O MEU PAGO/ DEIXEI UM POUCO DE MIM/ NO RANCHO DE BARRO E CAPIM/ BEIRA DE ESTRADA ENTONADO/ FICOU TODO O MEU PASSADO/ QUE COMIGO NÃO QUIZ VIM. QUANDO VOLTEI AO MEU PAGO/ NO MEU BAIO MARCHADOR/ NÃO AVISTEI OS “DOMADOR”/ SOMENTE ESTRADAS DESERTAS/ COM AS PORTEIRAS ABERTAS/ JOGADAS NOS “CORREDOR”. QUANDO DEIXEI O MEU PAGO/ OS SETE POVOS MISSIONEIROS/ FUI MAIS UM CAMPEIRO/ QUE RUMOU PARA CIDADE/ VIVER DE CHANGA E SAUDADE/ EM BUSCA DO TAL DINHEIRO. QUANDO VOLTEI AO MEU PAGO/ LEMBRO-ME BEM DESSE DIA/ VENTAVA E TAMBÉM CHOVIA/ UMA GAROAZITA MEIA FRACA/ E NA CINTURA A VELHA GUAIACA/ OUTRA VEZ VOLTOU VAZIA. QUANDO DEIXEI O MEU PAGO/ CONFESSO SAI CANTANDO/ OLHAVA PRA TRÁS ABANANDO/ MEUS PAIS QUE NA PORTA/ IMPLORAVAM MINHA VOLTA/ JUNTO DO CUSCO UIVANDO. QUANDO VOLTEI AO MEU PAGO/ ACHEI QUE ANDAVA PERDIDO/ NO LUGAR FOI CONSTRUÍDO/ SÓ AVISTEI PRÉDIOS ALTOS/ E RODOVIAS COM ASFALTO/ ONDE ANTES FOI CHÃO BATIDO. QUANDO DEIXEI O MEU PAGO/ DEIXEI O QUE ME PERTENCIA/ COIVARAS COM BOA QUANTIA/ DE FEIJÃO PRETO PLANTADO/ E UMAS CABEÇAS DE GADO/ COM RÊS QUASE DANDO CRIA. QUANDO VOLTEI AO MEU PAGO/ DOEU EM MIM O DESENCANTO/ AO VER OS VERDES CAMPOS/ EM LAVOURAS TRANSFORMADOS/ E PARA LONGE ESPANTADOS/ OS CAUDILHOS PIRILAMPOS. QUANDO DEIXEI O MEU PAGO/ DEIXEI TAMBÉM UMA PRENDA/ HOJE TALVEZ NEM LEMBRA/ QUE JÁ FUI SEU NAMORADO/ ESTANDO DE CASÓRIO MARCADO/ COM PEÃO DE OUTRA FAZENDA. QUANDO VOLTEI AO MEU PAGO/ UM POUCO MAIS ANTIGO/ ENCONTREI VELHOS AMIGOS/ E AQUELA PRENDA MIMADA/ QUE POR ESTAR CASADA/ NÃO QUIZ PROSEAR COMIGO. QUANDO DEIXEI O MEU PAGO/ NÃO DEI OUVIDO A CONSELHOS/ BATI COM A TALA DO RELHO/ NA ANCA LARGA DO BAIO/ E SAÍ CORTANDO ATALHOS/ DESTINO: UM PAGO ALHEIO. QUANDO VOLTEI AO MEU PAGO/ DIFERENTE DE QUANDO PARTI/ NA PORTA DO RANCHO BATI/ E FALEI: MEUS PAIS QUERIDOS/ ERREI POR TER PARTIDO/ E SOMENTE AGORA QUE VI.

OUTRA MARIANA

TEM UMA COISA QUE ME ENCOMODA MUITO/ É A SAUDADE DE UM ANTIGO AMOR/ QUE FOI EMBORA LEVANDO ALEGRIA/ DEIXOU COMIGO SÓ TRISTEZA E DOR. TRISTEZA E DOR JUNTO COM SAUDADE/ MACHUCA MAIS QUE FACA CORTADEIRA/ ENQUANTO EU AMAVA AQUELA INGRATA/ ELA FAZIA DE MIM UMA BRINCADEIRA. EU FUI AOS POUCOS ME APAIXONANDO/ NUNCA PENSEI QUE ELA FOSSE EMBORA/ MAS UM DIA BRIGOU COMIGO/ PEGOU AS ROUPAS E SAIU PORTA AFORA. ENCILHOU O CAVALO SEM NADA DIZER/ DAÍ EU FIZ ALGUMAS PROPOSTAS/ ESPORIOU O PINGO E SAIU GALOPANDO/ COM MINHA GAITA PRESA NA SUAS COSTAS. FIQUEI SOZINHO AQUI NO MEU RANCHO/ SÓ COM O CACHORRO E O GATO LADRÃO/ MAS SE UM DIA RESOLVER VOLTAR/ GUARDEI TEU LUGAR NO MEU CORAÇÃO. MAS TRAGA JUNTO A GAITA E O CAVALO/ PORQUE EU GANHEI ELES DE HERANÇA/ PELO CONTRÁRIO ALÉM DA TUA AUSÊNCIA/ DELES VAI RESTAR SOMENTE AS LEMBRANÇAS.

TUA MANIA

ESSA MANIA QUE TU TEM/ DE PROMETER QUE LOGO VEM/ E SÓ PELAS TANTAS APARECE/ ME DA UMA AFLIÇÃO DANADA/ QUE CHEGO MORDER AS PALAVRAS/ PRA NÃO DIZER: MEU BEM ME ESQUECE. E APESAR DE FAZER UM ANO/ QUE JUNTO AMASSAMOS OS PANOS/ AINDA FICO QUE É UMA FERA/ QUANDO A MÁ “SUERTE” PILUNGA/ ME DEIXA ACHATANDO A BUNDA/ NUM CEPO A TUA ESPERA. DE NADA ADIANTA OS MEUS TRAGOS/ POR NÃO CONSERTAR O ESTRAGO/ QUE ME FAZ A SOLIDÃO/ E MUITO MENOS AS PROMESSAS/ QUE FAÇO DOIDO DE PRESSA/ PRA TE AVISTAR NO PORTÃO. VOU DAS PORTAS PRAS JANELAS/ E POR NÃO TE VER MINHA BELA/ O MEU CORAÇÃO SE ABALA/ DEPOIS SINTO UMA FORTE DOR/ QUE SUSPEITO SER DE AMOR/ OU DE UMA PAIXÃO BAGUALA. NO IR DUM CANTO PRO OUTRO/ CHUTO AS PAREDES DOU SOCO/ MAS NÃO RESOLVE – O QUE FAÇO?/ QUASE EU DERRUBO O PRÉDIO/ PORQUE SÓ ENCONTRO REMÉDIO/ NO ACONCHEGO DOS TEUS BRAÇOS. MAS QUANDO TU VEM GURIA/ RENASCE A MINHA ALEGRIA/ DAÍ EU COMEÇO ENTENDER/ QUE A MINHA FALTA DE CORAGEM/ SALVA-ME DE UMA BOBAGEM/ E DO RISCO DE TE PERDER. É DESSE JEITO QUE ME SAFO/ DAS CONFUSÕES QUE EU FAÇO/ QUASE SEMPRE SEM PENSAR/ E SE ME TAXAREM DE LOUCO/ CONFIRME: QUE SOU UM POUCO/ POR VIVER SÓ PRA TE AMAR.

DON MOLINA

EU SOU UM GAÚCHO LÁ DOS PAGOS MISSIONEIROS/ ONDE O POVO É ORDEIRO/ MAS TAMBÉM SABEM BRIGAR/ E NÃO FOI QUERENDO DESBANCAR O DON MOLINA/ MAS FUI FAZENDO ESTAS RIMAS/ DE TANTO OUVI-LO CANTAR/ SER COMO ELE É UMA COISA QUE ATÉ CREIO/ SÓ ME BASTA FICAR FEIO/ E AS MELENAS ENCOMPRIDAR. ENQUANTO ISSO PARA MIM NÃO ACONTECE/ MAIS MEUS BOLSOS EMPOBRECE/ DA “INTÉ” NOJO DE FALAR/ E A CHUVA FRIA GUASQUEANDO BEM FORTE AGORA/ BOTOU OS RIOS CAMPO AFORA/ NÃO DÁ NEM PARA PESCAR/ EU NO MEU RANCHO DISSO TUDO ACHANDO GRAÇA/ SEM FUMO E SEM CACHAÇA/ E SEM DINHEIRO PRA COMPRAR. MAS NEM POR ISSO DEIXO FLOXAR O MEU QUEIXO/ CHAQUALHO O LOMBO E ME MEXO/ NEM POEIRA DEIXO SENTAR/ SOU FANDANGUEIRO DESSES NO MAIS RESOLVIDO/ NO INSTRUMENTO DOU UM TINIDO/ E JÁ ME ATRACO A TOCAR/ A GAITA RONCA E OS VERSOS SAINDO SOLTO/ “COMO É QUE “TÔ” NESSE CORPO”/ É O QUE MAIS GOSTO DE CANTAR. E NESSE TRANCO VOU REPONTANDO OS MEUS DIAS/ ENTUPIDO DAS ALEGRIAS/ E DE TANTO AMOR PRA DAR/ GRAÇAS A DEUS AS TRISTEZAS EU NÃO CONHEÇO/ MUITO MENOS ME ABORREÇO/ SE UMA CHINA ME DEIXAR/ FAÇO DE CONTA QUE OUTRA JÁ ARRANJEI/ POR MULHER NUNCA CHOREI/ DISSO EU POSSO ME ORGULHAR.

Amor pelo Rio Grande

Não tenho contorno de mapa/ Desenhado na minha estampa/ Mas tenho a velha pampa/ Escarciando dentro de mim/ Com campo, grama, capim/ E potros que ninguém doma/ Galpões onde chia cambona/ Peões que fazem desencilha/ Recuerdos apertando presilhas/ De almas xucras e querendonas. Assim fui e continuo sendo/ Por fora de simples aparência/ Por dentro a mais pura essência/ Que a cada dia se renova/ E enquanto eu não for pra cova/ O crioulismo da minha raça/ Será o laço que me enlaça/ Na tradição do Rio Grande/ Por quem derramarei meu sangue/ E tombarei a minha carcaça.

RS

RIO GRANDE DO SUL/ EM VERSO TE CANTO E TROVO/ E CONTO A HISTÓRIA DOS SETE POVOS/ A CUSTA DE SANGUE ESCRITA/ ONDE MUITOS BRAVOS JESUÍTAS/ TOMBARAM PARA O ETERNO SONO/ POR ISSO EU ME EMOCIONO/ AO VER AS REDUÇÕES EM PÉ/ ECOANDO O GRITO DE SEPÉ/ QUE ESTA TERRA TEM DONO. RIO GRANDE DO SUL/ MUNDO VELHO SEM PORTEIRA/ DONO DA LINDA BANDEIRA/ QUE HASTEIO DENTRO DE MIM/ PAREÇO ESCUTAR OS CLARINS/ FAZEREM ECO PELAS COXILHAS/ ONDE A INDIADA CAUDILHA/ “COMBATERAM” COM BRAVURA/ CONCEDENDO-NOS A NOMENCLATURA/ PRA EPOPÉIA FARROUPILHA.

A GROSSO MODO - 7ª EDIÇÃO

A Grosso Modo é o sexto trabalho literário, do missioneiro de São Nicolau, Valdecir da Silva Coelho. Sendo este de ditados, já que os anteriores, são de poesias nativas, nas quais revivencia em cada rima, seus bons tempos de peâo campeiro. O título estampa para todos, que o conteúdo deste livro, é calcado num linguajar bem simples, porém autêntico, salienta o autor, que descreveu o que significa os ditados e as expressões, conforme aprendeu nos pagos da intitulada 1ª querência. E como nos livros anteriores, este também traz na capa, o mapa com as cores do nosso glorioso Rio Grande do Sul.